Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A CHINA E A GLOBALIZAÇÃO


A globalização do sistema mundial, de que a China é um actor principal, significa a mercantilização das relações sociais e os chineses, mesmo culturalmente, não se sentem pouco à vontade nesse processo. Pelo contrário: trabalham duramente, com tempos e intensidades quotidianos dificilmente suportáveis por ocidentais, para poderem emergir da pobreza em que o grande número ainda se encontra mergulhado. Em aulas que dei em Macau e Cantão, conheci jovens chineses e chinesas fascinados pelo que supunham ser o American way of life
Mas um dos lados mais negativos da globalização – a acentuação de desigualdades, nomeadamente entre classes sociais e regiões – também é observável neste imenso território. Bem como o aumento de desemprego, e as migrações internas não controladas. A transição para a economia de mercado,entre outras consequências, implica o desmantelamento de estruturas sociais que desempenhavam papel equivalente ao Welfare State europeu.
Assim, pude observar em universidades e grandes empresas estatais, unidades com funções sociais diversas, como hospitais, habitações para trabalhadores, residências para professores e alunos,refeitórios, pequenos mercados, etc. O processo de «transição para a economia de mercado» na China tem como um dos maiores obstáculos esta rede de serviços de que o trabalhador da empresa
estatal ou o professor e aluno dispunham e de que ficarão desprovidos na maré da privatização.
Também é preocupante para as autoridades chinesas, a forte acentuação dos desequilíbrios regionais no desenvolvimento económico, já que este tem sido sobretudo localizado em zonas do Sul e do litoral, além de grandes pólos nas proximidades do Rio Amarelo e do Rio das Pérolas
Donde concluo que a grande problemática a defrontar pelos chineses nesta primeira metade do século XXI tem mais a ver com a projecção interna da globalização do que com a sua projecção externa sobre todo o sistema mundial.Dito doutra maneira: a grande questão do presente e do futuro imediato da China consiste no seu acesso à democratização social e política, quando o mercado global já invadiu todo o país.
Mas é certo que o mercado global, por sua vez, não ficará incólume perante a crescente e tentacular presença chinesa.
Publicado em http://mariomurteira.com

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