A CHINA E A GLOBALIZAÇÃO
A globalização do sistema mundial, de que a China é um actor principal, significa a mercantilização das relações sociais e os chineses, mesmo culturalmente, não se sentem pouco à vontade nesse processo. Pelo contrário: trabalham duramente, com tempos e intensidades quotidianos dificilmente suportáveis por ocidentais, para poderem emergir da pobreza em que o grande número ainda se encontra mergulhado. Em aulas que dei em Macau e Cantão, conheci jovens chineses e chinesas fascinados pelo que supunham ser o American way of life
Mas um dos lados mais negativos da globalização – a acentuação de desigualdades, nomeadamente entre classes sociais e regiões – também é observável neste imenso território. Bem como o aumento de desemprego, e as migrações internas não controladas. A transição para a economia de mercado,entre outras consequências, implica o desmantelamento de estruturas sociais que desempenhavam papel equivalente ao Welfare State europeu.
Assim, pude observar em universidades e grandes empresas estatais, unidades com funções sociais diversas, como hospitais, habitações para trabalhadores, residências para professores e alunos,refeitórios, pequenos mercados, etc. O processo de «transição para a economia de mercado» na China tem como um dos maiores obstáculos esta rede de serviços de que o trabalhador da empresa
estatal ou o professor e aluno dispunham e de que ficarão desprovidos na maré da privatização.
Também é preocupante para as autoridades chinesas, a forte acentuação dos desequilíbrios regionais no desenvolvimento económico, já que este tem sido sobretudo localizado em zonas do Sul e do litoral, além de grandes pólos nas proximidades do Rio Amarelo e do Rio das Pérolas
Donde concluo que a grande problemática a defrontar pelos chineses nesta primeira metade do século XXI tem mais a ver com a projecção interna da globalização do que com a sua projecção externa sobre todo o sistema mundial.Dito doutra maneira: a grande questão do presente e do futuro imediato da China consiste no seu acesso à democratização social e política, quando o mercado global já invadiu todo o país.
Mas é certo que o mercado global, por sua vez, não ficará incólume perante a crescente e tentacular presença chinesa.
Publicado em http://mariomurteira.com
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