MARINHA NORTE-AMERICANA NO GOLFO DA GUINÉ
Os senhores da guerra não descansam, não dormem! A sua "vigilância" permite-lhes reinventar pretextos para passearem a sua indústria de destruição massiva pelos mares como se estivessem em lua de mel permanente com os predadores da paz
Um navio da Marinha norte-americana será enviado para o Golfo da Guiné durante sete meses, levando a bordo uma equipa internacional encarregue de ajudar os países do Corno de África, anunciou hoje o chefe da Marinha dos Estados Unidos da América na Europa. O navio de assalto anfíbio USS Fort McHenry deixará os Estados Unidos terça-feira e ficara «fundeado ao largo das costas ocidentais de África nos próximos meses», com uma equipa civil e militar internacional a bordo, para ajudar essas nações em matéria de segurança e vigilância«, declarou o almirante Harry Ulrich, durante uma conferência de imprensa no Pentágono.
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A "REALPOLITIK" E O ALINHAMENTO FRANÇA-ANGOLA NO GOLFO DA GUINÉ:
A visita do Chefe de Estado Francês Nicolas Sarkozy a Angola, em vésperas do Dia de África, é um acento tónico nas alterações que se estão a produzir nos relacionamentos da França para com África, muito em particular na direcção do Golfo da Guiné.
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No “offshore” dessa região nevrálgica sob o ponto de vista da exploração e exportação de petróleo para a África Sub Sahariana, a França manteve durante demasiado tempo uma visão geo estratégica baseada no conceito conservador e obsoleto de “pré carré”, opção de certo modo desconectada da linha seguida pelos interesses concentrados na aristocracia financeira mundial, eminentemente anglo-saxónica.
Como prova disso estão os acordos de natureza militar e marítima que procurou distender, do Senegal ao Gabão, apesar das contrariedades invulgares da Costa do Marfim, na sequência de outras dificuldades anteriores, a partir da década de 90, dentro do continente (a título de exemplo, casos do Ruanda e do Zaire – República Democrática do Congo).
A geo estratégia Norte Americana para o Golfo da Guiné, seguindo a linha dos interesses da aristocracia financeira em relação à qual a Reserva Federal se tornou acessória, que leva em especial atenção os interesses relativos à exploração do petróleo, entretanto, consolidou-se, tornando-se dominante a tal ponto que o próprio conflito na Costa do Marfim acaba por reflectir o peso da sua influência na região.
O Presidente Jacques Chirac a seu tempo, não pôde, ou não teve a arte de melhor entender a génese e o crescimento desse fenómeno político, económico e geo estratégico, a fim de melhor corresponder aos interesses da França.
A crise da multinacional ELF poderá ter muito contribuído para isso, pois a TOTAL por si só, não tinha “lobby” suficiente, determinante, (é assim que funcionam as “democracias representativas” ocidentais) nos poderes de decisão relativos à geo estratégia do petróleo em França, não tanto no que diz respeito aos relacionamentos no Norte de África, mas sobretudo para com os relacionamentos com a África Sub Sahariana – Golfo da Guiné.
As “correcções”, que levavam em linha de conta o formidável domínio dos Estados Unidos nos mares e em particular no Golfo da Guiné, no momento em que o Pentágono pôs em marcha o AFRICOM, foram iniciadas no interior do continente pelo Presidente Nicolas Sarkozy, que produziu alinhamentos consideráveis com a geo estratégia Norte Americana no eixo Kribi – Port Sudan, a meio do qual se encontra a fronteira comum Chade – República Centro Africana – Sudão, com epicentro na dolorosa fricção de Darfur.
Esse eixo, tem como “catapulta” de pressão o “mare nostrum” (sob o ponto de vista dos interesses Norte Americanos e ocidentais), do Golfo da Guiné.
Sequência dessa “conversão” geo estratégica Francesa, em termos de “realpolitik”, está a normalização com Angola, o 2º produtor de petróleo no “offshore” do Golfo da Guiné, aninhando-se os dois estados à geo estratégia Norte Americana.
Os três maiores produtores de petróleo do Golfo da Guiné, Nigéria, Angola e Guiné Equatorial, jamais fizeram parte do “pré carré” Francês e países que o integraram, como a Costa do Marfim, o Congo e o Gabão, ou possuem possibilidades limitadas de exploração, ou estão já na curva declinante dessas possibilidades, o que diminui o peso da influência geo estratégica Francesa, que possui acordos militares e marítimos de várias décadas a esta parte com a maior parte deles.
As bases militares Francesas no Gabão, têm servido de apoio aos navios que operam na parte Sul do Golfo da Guiné (Angola incluída) e muito recentemente, antes da visita do Presidente Sarkozy, duas dessas unidades navais, fizeram escala em Luanda.
O Presidente Sarkozy encontrou em Luanda um interlocutor que está perfeitamente “enquadrado” na geo estratégia Norte Americana para o Golfo da Guiné, apesar dos cuidados que está a demonstrar no sentido de reduzir os desenvolvimentos militares.
Isso satisfaz Washington e o Pentágono, pois onde não existem necessidades de ordem militar, (os meios são necessários no Médio Oriente – Ásia Central, no Leste da Europa, na imensa região Ásia – Pacífico e agora até nas Caraíbas, com a introdução da há muito “adormecida” IVª frota), estão lá os outros meios operativos, intimamente associados às multinacionais e aos serviços de inteligência; o “offshore” do Golfo da Guiné, pelas suas características e pelas características dos países africanos com acesso a ele, é precisamente isso que determina, em termos de quesitos operativos.
O discurso do Presidente José Eduardo dos Santos é nesse sentido esclarecedor, até por que fornece elementos sobre essa geo estratégia com tónica e enquadramento “no feminino” (é só lembrar Condollezza Rice, Jendahi Frazer, Theresa Whelan e tantas outras, incluindo a Presidente da Libéria), que agora se tornou mais comum que nunca, apenas com a mais aparente que real “contrariedade” chinesa, que vai dando afinal cada vez mais provas de integração e complementaridade com o capitalismo de tendência neo liberal que está em vigor também em Angola:
“Devemos fazer um esforço redobrado para adequar as nossas relações politicas ao nível da cooperação económica e do intercâmbio comercial existente entre os dois países.
Vivem em Angola mais de dois mil cidadãos franceses; o volume anual de negócios ultrapassa os dois biliões e meio de dólares, operam aqui mais de setenta empresas francesas, entre as quais a TOTAL-ELF, que opera em campos petrolíferos cujas reservas estão estimadas em um bilião e 284 mil barris, estando o seu volume de produção diária avaliado em duzentos e três mil barris/dia.
O Governo angolano vai continuar a desenvolver a sua politica de cooperação neste e noutros sectores, contribuindo para a segurança energética dos seus parceiros estratégicos.
Pretendemos, por esse facto e não só, que haja estabilidade e segurança no Golfo da Guiné, reforçando-se aí os mecanismos de cooperação e concertação entre todos os interessados, respeitando-se a soberania dos estados africanos”.
É evidente que o estado Angolano vai dando mostras de ter abdicado completamente duma linha original perfeitamente justificável não só durante a Guerra Fria, como hoje em dia em plena globalização neo liberal, em que os “deficits” energéticos na África Austral são tão gritantes, que têm influenciado na relativa recessão económica pela qual passa a África do Sul.
Durante a luta contra o “apartheid” era justificável o modelo de acordos petrolíferos estabelecidos por Angola com as multinacionais ocidentais, (tendo em conta o peso dos “lobbies” dessas multinacionais nos Estados Unidos e na Europa), como uma fórmula que muito contribuía para o isolamento do próprio regime do “apartheid”, retirando a hipótese de potencial apoio dessas mesmas multinacionais cada vez mais decisivas em Washington.
Por essa razão chegou-se à caricata situação dos campos petrolíferos da Cabinda estarem a ser defendidos militarmente pelas FAPLA e pelas FAR Cubanas, face a eventuais incursões das SADF e seus apêndices, apesar da política de não reconhecimento do estado Angolano, seguida por várias administrações em Washington.
É nesse sentido que o episódio da neutralização do grupo do capitão Winand Johannes Petrus du Toit, foi tão importante: a partir dele, Washington e seus aliados começaram a viragem na direcção de Angola, abandonando à sua sorte o regime do “apartheid”, que nem sequer garantia a política de “um homem, um voto”.
Com a globalização neo liberal em curso a partir dos centros financeiros capitalistas mais decisivos, o peso de estratégias estabelecidas ao nível de grupos de pressão, como o “Carlyle”, na sequência de manipulações que envolveram as regiões centrais e austrais de África e muito particularmente Angola, desvirtuaram por completo o que o Presidente Agostinho Neto havia indicado como perspectiva para um longo prazo (recordo, “na Namíbia e na África do Sul está a continuação da nossa luta”), uma perspectiva que não se aplicava só à luta contra o “apartheid”, mas que garantia um Não Alinhamento consequente a muito longo prazo, integrando os esforços do que deveria ter sido a sequência do movimento de libertação, aglutinando inicialmente ANC, MPLA, SWAPO, mas abrindo-se a todos os outros que, em plena democracia representativa, estivessem dispostos a se unirem em prol do desenvolvimento sustentável de que a África Austral tanto necessita.
A visita do Presidente Francês, é por conseguinte, uma prova de inteira vassalagem ao “diktat” Norte Americano para o Golfo da Guiné, sem alternativas para a França e para Angola e a prova está em que a África do Sul busca noutros parceiros (não em Angola, ou não com a ênfase e rapidez necessárias e possíveis), a solução para os seus aflitivos problemas energéticos.
A África Austral nada apreendeu ainda dos esforços de integração que estão em curso no outro lado do Atlântico, na América Latina, nem de suas possibilidades e as suas elites preferem ficar subsidiárias, ou mesmo agentes, dum processo que conduz a humanidade cada vez mais para um beco sem saída.
Martinho Júnior
http://pagina-um.blogspot.com/2008/05/realpolitik-e-o-alinhamento-frana.html
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