SÓCRATES E SANTANA LOPES, DOIS POLITICOS DA 3ª DIVISÃO
O Emídio Rangel disse, em certa ocasião, que as audiências da SIC poderiam impor um Presidente. A afirmação causou rebuliço. Porém, estava escorada na verdade.
Experiências semelhantes, em outros países, serviam de argumento incontestável. Acontece que o Rangel estava sob o fogo de atiradores, acoitados em todos os pontos cardiais. E acresce o facto de ele possuir um talento que escasseava, notoriamente, aos seus inimigos. Abriu um precedente histórico, mais tarde confirmado na RTP: dois políticos da terceira divisão obtiveram imensa popularidade. Ambos treparam a primeiro-ministro, segundo milagres que, como todos os milagres, assentam numa fraude.
A análise desta problemática está feita há muitíssimos anos. No território dos livros (falo de livros, não de literatura) o assunto, então, parece coisa de vudú. Mas não é. O artifício cria a ilusão. Só muito raramente o grande texto chega ao grande público. O epifenómeno das tiragens extraordinárias corresponde à sua própria fragilidade: duram a sombra do momento.
Ora bem: um jornalismo sossegado, preguiçoso, ignorante e até patético tem promovido uma série de medíocres, nos mais amplos sectores da sociedade portuguesa. A crítica dos valores suicidou-se com funambulismos verbais. Na política, apenas têm permissão de audiência duas componentes do girassol ideológico português – se há, de facto, “ideologia” no PS e no PSD. O paradigma daquele programa, “Quadratura do Círculo”, no qual as três vozes soam a uníssono, constitui um pluralismo inventado numa “realidade” de metáfora.
A imposição de um pensamento imaginado como original e seriamente atendível não passa de uma convocatória para a imbecilidade e para a anestesia geral. A maioria dos que pensam neste país, que sabem pensar e que poderia ajudar-nos a pensar é, sistematicamente, colocada no limbo. Por ignorância, burrice, mas também por orientação deliberada.
Dias a fio as televisões, as rádios e os jornais transformaram o “debate” parlamentar num “caso” entre duas criaturas “mediáticas”. Os enfoques não se dirigiam para o Orçamento de Estado mas, directamente, para o eventual “duelo” entre o primeiro-ministro e o líder da bancada do PSD. O ridículo chegou ao ponto de se proceder a uma retrospectiva televisiva dos dois senhores, quando ambos paramentavam a vacuidade das ideias com uma pretensa loquacidade. Até hoje, qualquer dos dois não passou de taciturna mediania.
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