Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

sábado, 9 de fevereiro de 2008

OS DESCONTINUADORES DA ETERNIZAÇÃO DA MISÉRIA



Acompanhei desde o primeiro momento, no Diário de um Sociólogo, o “sismo” popular no Maputo.
O autor daquele blog já recebeu inúmeras e justas manifestações de apreço pelo seu excelente trabalho.
É igualmente digno de registo a disponibilidade e a perspicácia, na análise dos acontecimentos, por parte dos habituais visitantes do Diário de um Sociólogo.
Sou, também, um habitual visitante do Diário mas, desta feita, estive ausente.
Decidi-me por me envolver, cá de longe (à distância de um click)
Em primeiro lugar, referir que não é fácil libertarmo-nos da colonização mental e da sua inseparável companheira: refiro-me à subserviência em relação ao Poder.
Um misto de crítica e de melancolia, tem caracterizado alguns textos, e alguns comentadores,ao referirem-se “às cedências do governo”,em Moçambique, a propósito da revolta popular no Maputo
É como que a reprodução da submissão às regras da ordem estabelecida..
Perdeu-se de vista o facto de o Estado, onde quer que se situe, ser uma entidade eminentemente repressiva. Uma máquina de repressão ao serviço das classes e da ideologia dominante
No dizer de Rousseau, “ o primeiro homem que cercou uma porção de terra, e disse: isto é meu, e encontrou gente suficientemente tonta para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador do Estado.
O aparelho de Estado e o poder de Estado não são imutáveis. Têm, em termos históricos, uma existência mais ou menos efémera. Os Povos, não! São os construtores da história, da cultura, do progresso da humanidade.
Depois, cruzei-me com um outro grupo que pretende atribuir aos marginais, aos arruaceiros, às mulheres e aos jovens, as causas da revolta popular!
Por ignorância, ou amnésia histórica, aqueles senhores esqueceram, a manifestação de estudantes no Soweto, em Junho de 1976, que protestavam contra a política educacional do governo racista de então.
Este movimento, esta revolta, integra, como todo o mundo sabe, a história do país como um exemplo de resistência ao regime racista. Hoje, na África do Sul, é comemorado como "o dia da juventude" e de homenagem às vítimas da revolta de Soweto.
Pessoalmente, preferiria dizer que, no Maputo, os jovens, proporcionaram uma ampla manifestação de repúdio pela degradação crescente das condições de existência da grande maioria da população.
Estes jovens ter-se-iam revelado como os descontinuadores da indiferença ante a
eternização das condições miseráveis de existência da grande maioria da população trabalhadora em contraste com o enriquecimento crescente de um punhado de cidadãos
Em síntese:
Persistir em acrobacias politicas, sacralizar o mercado e eleger a globalização à categoria de divindade salvadora é, como diz o ditado popular, chover no molhado.

2 comentários:

Carlos Serra disse...

Agry, permiti-me citar este belo texto na primeira adenda do "Externos, violentos e oportunistas (2)" do meu blogue. Abraço.

AGRY disse...

A luta permanente que tem sido desenvolvida no Diário de um Sociólogo cria responsabilidades
a todos os que com ele se solidarizam.
A minha modesta, mas autêntica, participação, será uma gota que poderá engrossar o caudal de ideias e de luta que corre nas veias do Diário
Abraço