Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

domingo, 9 de novembro de 2008

A OBSESSÃO AVALIATIVA E A ESCOLA TÓXICA

O Governo do Partido Socialista teria decidido atacar os direitos profissionais e sociais dos trabalhadores e apoiar descaradamente os interesses mais cegos do capital, se o clima internacional, e o nacional, não estivessem contaminados pelo espírito do neoliberalismo e pela bebedeira da especulação e do lucro a qualquer preço? Estou convencido que não.
Ora isso quer dizer que a política de Sócrates & companhia não assenta em convicções estruturadas, mas é apenas um mimetismo do poder dominante. Coisa fraca que muda ao sabor da direcção dos ventos que sopram.
Este é, portanto, um tempo propício ao nascimento de heróis e ditadores na esfera do poder. Um tempo capaz de proporcionar o clima que permite criar na cabeça da maioria do povo o espaço vazio necessário à aceitação, como mal menor, de todas as desgraças e todas as pauladas que os senhores resolvam fazer chover sobre ele.
Convém recordar que o apelo ao povo para que se sacrifique, aumente o tempo de trabalho e reduza os seus já parcos rendimentos, tem como pano de fundo um mundo onde 1,2 biliões de pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia e 2,8 biliões sobrevivem aquém dos 2 dólares diários. E para não ficarmos mais indignados não escrevo o número dos milhões que morrem de fome ou de doenças facilmente curáveis. É também a estes que despudoradamente os pregadores da tormenta da crise apelam para que se contenham nos seus gastos sumptuários e se envergonhem dos seus «privilégios»!
A esta conjuntura, sem princípios e sem ética, não fugiu nem podia fugir a Escola. Foi este o clima que permitiu à ministra da educação & companhia fazer a vida negra a funcionários e professores. A chamada bolha da especulação financeira rebentou e está a espalhar pelo mundo a peste acumulada. Será que a bolha da política educativa tóxica, produzida por Maria de Lurdes, também vai rebentar? Rebentará de madura, por si, ou será preciso picá-la? Que é preciso que rebente, é. Enquanto não rebentar não é possível limpar e iniciar o tratamento dos males educativos que entretanto cresceram.
O poder dos trabalhadores aumenta na razão directa do aumento da oferta de trabalho compatível com as suas qualificações no mercado de trabalho. Se o nosso mercado de trabalho oferecesse emprego compatível, noutras áreas de actividade, acontecia em Portugal o que acontece noutros países: os professores
abandonavam a profissão em passo de corrida e não pensavam na aposentação. O que os segura na escola já não é a vontade de lá estar.
O que os segura é a ausência de outras ofertas de trabalho. Ora, quem quer uma boa escola sabe que não há pior situação do que esta. A boa escola exige que quem lá está— sejam alunos, professores ou funcionários — sinta o prazer de lá estar. Não é o caso da nossa escola hoje.
E isso sim, é uma tragédia. E os que resistem a esta política educativa tóxica são uns heróis.
José Paulo Serralheiro (
Página da Educação)

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