A OBSESSÃO AVALIATIVA E A ESCOLA TÓXICA
O Governo do Partido Socialista teria decidido atacar os direitos profissionais e sociais dos trabalhadores e apoiar descaradamente os interesses mais cegos do capital, se o clima internacional, e o nacional, não estivessem contaminados pelo espírito do neoliberalismo e pela bebedeira da especulação e do lucro a qualquer preço? Estou convencido que não.
Ora isso quer dizer que a política de Sócrates & companhia não assenta em convicções estruturadas, mas é apenas um mimetismo do poder dominante. Coisa fraca que muda ao sabor da direcção dos ventos que sopram.
Este é, portanto, um tempo propício ao nascimento de heróis e ditadores na esfera do poder. Um tempo capaz de proporcionar o clima que permite criar na cabeça da maioria do povo o espaço vazio necessário à aceitação, como mal menor, de todas as desgraças e todas as pauladas que os senhores resolvam fazer chover sobre ele.
Convém recordar que o apelo ao povo para que se sacrifique, aumente o tempo de trabalho e reduza os seus já parcos rendimentos, tem como pano de fundo um mundo onde 1,2 biliões de pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia e 2,8 biliões sobrevivem aquém dos 2 dólares diários. E para não ficarmos mais indignados não escrevo o número dos milhões que morrem de fome ou de doenças facilmente curáveis. É também a estes que despudoradamente os pregadores da tormenta da crise apelam para que se contenham nos seus gastos sumptuários e se envergonhem dos seus «privilégios»!
A esta conjuntura, sem princípios e sem ética, não fugiu nem podia fugir a Escola. Foi este o clima que permitiu à ministra da educação & companhia fazer a vida negra a funcionários e professores. A chamada bolha da especulação financeira rebentou e está a espalhar pelo mundo a peste acumulada. Será que a bolha da política educativa tóxica, produzida por Maria de Lurdes, também vai rebentar? Rebentará de madura, por si, ou será preciso picá-la? Que é preciso que rebente, é. Enquanto não rebentar não é possível limpar e iniciar o tratamento dos males educativos que entretanto cresceram.
O poder dos trabalhadores aumenta na razão directa do aumento da oferta de trabalho compatível com as suas qualificações no mercado de trabalho. Se o nosso mercado de trabalho oferecesse emprego compatível, noutras áreas de actividade, acontecia em Portugal o que acontece noutros países: os professores
abandonavam a profissão em passo de corrida e não pensavam na aposentação. O que os segura na escola já não é a vontade de lá estar. O que os segura é a ausência de outras ofertas de trabalho. Ora, quem quer uma boa escola sabe que não há pior situação do que esta. A boa escola exige que quem lá está— sejam alunos, professores ou funcionários — sinta o prazer de lá estar. Não é o caso da nossa escola hoje.
E isso sim, é uma tragédia. E os que resistem a esta política educativa tóxica são uns heróis.
José Paulo Serralheiro ( Página da Educação)
Ora isso quer dizer que a política de Sócrates & companhia não assenta em convicções estruturadas, mas é apenas um mimetismo do poder dominante. Coisa fraca que muda ao sabor da direcção dos ventos que sopram.
Este é, portanto, um tempo propício ao nascimento de heróis e ditadores na esfera do poder. Um tempo capaz de proporcionar o clima que permite criar na cabeça da maioria do povo o espaço vazio necessário à aceitação, como mal menor, de todas as desgraças e todas as pauladas que os senhores resolvam fazer chover sobre ele.
Convém recordar que o apelo ao povo para que se sacrifique, aumente o tempo de trabalho e reduza os seus já parcos rendimentos, tem como pano de fundo um mundo onde 1,2 biliões de pessoas sobrevivem com menos de um dólar por dia e 2,8 biliões sobrevivem aquém dos 2 dólares diários. E para não ficarmos mais indignados não escrevo o número dos milhões que morrem de fome ou de doenças facilmente curáveis. É também a estes que despudoradamente os pregadores da tormenta da crise apelam para que se contenham nos seus gastos sumptuários e se envergonhem dos seus «privilégios»!
A esta conjuntura, sem princípios e sem ética, não fugiu nem podia fugir a Escola. Foi este o clima que permitiu à ministra da educação & companhia fazer a vida negra a funcionários e professores. A chamada bolha da especulação financeira rebentou e está a espalhar pelo mundo a peste acumulada. Será que a bolha da política educativa tóxica, produzida por Maria de Lurdes, também vai rebentar? Rebentará de madura, por si, ou será preciso picá-la? Que é preciso que rebente, é. Enquanto não rebentar não é possível limpar e iniciar o tratamento dos males educativos que entretanto cresceram.
O poder dos trabalhadores aumenta na razão directa do aumento da oferta de trabalho compatível com as suas qualificações no mercado de trabalho. Se o nosso mercado de trabalho oferecesse emprego compatível, noutras áreas de actividade, acontecia em Portugal o que acontece noutros países: os professores
abandonavam a profissão em passo de corrida e não pensavam na aposentação. O que os segura na escola já não é a vontade de lá estar. O que os segura é a ausência de outras ofertas de trabalho. Ora, quem quer uma boa escola sabe que não há pior situação do que esta. A boa escola exige que quem lá está— sejam alunos, professores ou funcionários — sinta o prazer de lá estar. Não é o caso da nossa escola hoje.
E isso sim, é uma tragédia. E os que resistem a esta política educativa tóxica são uns heróis.
José Paulo Serralheiro ( Página da Educação)
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