Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

CONTRA O EMPOBRECIMENTO E AS INJUSTIÇAS


Somos um povo manso?
Não é fácil perceber esta lógica dos brandos costumes da opinião pública. Sobretudo quando parecem ter sido há muito ultrapassados todos os limites à dignidade e quando se tornou claríssimo que os sacrifícios não são para todos.

Chega a ser saloia a demonização de que os gregos têm sido alvo em Portugal. Por todo o lado se ouve que Portugal não é a Grécia. E tal afirmação acaba por surgir até dos sectores mais inesperados. Parecemos fazer questão de sublinhar que não somos malandros e maus trabalhadores como os gregos. Ficamos portanto agradecidos que não nos confundam com a rebaldaria que nos dizem lá se passar. Parecemos também querer deixar bem claro que não somos uns desordeiros mal comportados que cercam o parlamento e fazem greves a torto e a direito. Nada disso.
Pelo contrário, parecemos apenas preocupados em demonstrar que reconhecemos ter-nos portado mal, mas que tudo faremos agora para receber uma medalha de bom comportamento. Nada de desordens, grandes protestos ou confusões, porque este é um tempo onde se exige responsabilidade. Parecemos ter interiorizado tão bem a ideia de que andamos a viver acima das nossas possibilidades, que agora assumimos sem sequer questionar que o sacrifício e a penitência são o nosso caminho para a salvação.
As sondagens estão aliás a reflectir bem esta postura maioritária na opinião pública. Depois de 100 dias de ininterruptos anúncios de austeridade, o grau de apoio ao presente Executivo continua de boa saúde. Ou seja, após subidas de impostos a todos os níveis, cortes nas prestações sociais, cortes nos salários, o país parece achar que é este sacrifício presente que nos assegurará um futuro risonho. E mesmo verificando que, na sequência de tais medidas, a economia encontra-se em travagem brusca, os juros da dívida pública continuam em níveis incomportáveis e que os que graves efeitos sociais do actual quadro são já visíveis à vista desarmada, consideramos que é este o caminho que nos curará.
Não é fácil perceber esta lógica dos brandos costumes da opinião pública. Sobretudo quando parecem ter sido há muito ultrapassados todos os limites à dignidade e quando se tornou claríssimo que os sacrifícios não são para todos. Aliás, casos de polícia como o BPN ou a ocultação da dívida por Jardim são rapidamente secundarizados, como se de problemas isolados se tratassem.

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