Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

quinta-feira, 31 de maio de 2012

MEMÓRIAS DE UM COMBATENTE DA CAUSA

Nas colónias, o interlocutor válido e institucional do colonizado, o porta-voz do colono e do regime de opressão é o polícia e o soldado.
O colonialismo não é uma máquina de pensar, não é um corpo dotado de razão. È a violência em estado natural e que só se inclina diante de uma violência maior (Frantz Fannon).

Em Moçambique, nas masmorras da PIDE, muitas centenas de moçambicanos perderam a vida. Nacionalistas, militantes da luta anti-colonial mas também simples cidadãos sem qualquer ligação à FRELIMO. Ter nascido negro era, na perspectiva do ocupante e das forças repressivas em particular, pretexto para detenções arbitrárias.
Em “Memórias de um Combatente da Causa”, Aurélio Langa recorda as prisões, as agressões, as humilhações, a tortura e a morte no interior da fortaleza do regime colonial. Ele próprio passou pela sinistra Vila Algarve e pelo cinicamente designado “Centro de Recuperação da Machava” onde conheceu na carne a violência assassina duma polícia e de um regime sanguinários.
Na hora da verdade, houve sempre alguém, ainda que modestamente, que se solidarizou com a luta do povo moçambicano. Conheci Aurélio Langa a quem agradeço o exemplar que me chegou recentemente, às mãos. Combater a amnésia histórica é uma exigência pela preservação, divulgação e investigação da resistência anticolonial.
O estado de abandono da Vila Algarve, confirma, infelizmente, a indiferença e a recusa em preservar a memória da resistência anti-colonial. Receio que na perspectiva do Poder, os combatentes da liberdade reduzem-se aos que pegaram em armas, incorrendo-se assim num grosseiro e indesculpável erro histórico. A tortura e a morte de cidadãos moçambicanos, nas cadeias da PIDE, não comoveram, ao que julgo saber, as autoridades moçambicanas.
Termino como comecei a postagem, com Fannon: “Durante a luta de libertação, o líder despertou o povo e prometeu-lhe uma marcha heroica e radical. Hoje, multiplica os esforços para o adormecer e pede-lhe, três ou quatro vezes por ano, que se lembre da época colonial e que meça o imenso caminho percorrido”.

Apostila: Esta obra é uma edição de JV Editores, Maputo 2011. Revisão de língua e estrutura da obra: Fernanda Queirós e Maria Teresa Veloso

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