MEMÓRIAS DE UM COMBATENTE DA CAUSA
Nas colónias, o interlocutor válido e institucional do colonizado, o porta-voz do colono e do regime de opressão é o polícia e o soldado.
O colonialismo não é uma máquina de pensar, não é um corpo dotado de razão. È a violência em estado natural e que só se inclina diante de uma violência maior (Frantz Fannon).
Em Moçambique, nas masmorras da PIDE, muitas centenas de moçambicanos perderam a vida. Nacionalistas, militantes da luta anti-colonial mas também simples cidadãos sem qualquer ligação à FRELIMO. Ter nascido negro era, na perspectiva do ocupante e das forças repressivas em particular, pretexto para detenções arbitrárias.
Em “Memórias de um Combatente da Causa”, Aurélio Langa recorda as prisões, as agressões, as humilhações, a tortura e a morte no interior da fortaleza do regime colonial. Ele próprio passou pela sinistra Vila Algarve e pelo cinicamente designado “Centro de Recuperação da Machava” onde conheceu na carne a violência assassina duma polícia e de um regime sanguinários.
Na hora da verdade, houve sempre alguém, ainda que modestamente, que se solidarizou com a luta do povo moçambicano. Conheci Aurélio Langa a quem agradeço o exemplar que me chegou recentemente, às mãos. Combater a amnésia histórica é uma exigência pela preservação, divulgação e investigação da resistência anticolonial.
O estado de abandono da Vila Algarve, confirma, infelizmente, a indiferença e a recusa em preservar a memória da resistência anti-colonial. Receio que na perspectiva do Poder, os combatentes da liberdade reduzem-se aos que pegaram em armas, incorrendo-se assim num grosseiro e indesculpável erro histórico. A tortura e a morte de cidadãos moçambicanos, nas cadeias da PIDE, não comoveram, ao que julgo saber, as autoridades moçambicanas.
Termino como comecei a postagem, com Fannon: “Durante a luta de libertação, o líder despertou o povo e prometeu-lhe uma marcha heroica e radical. Hoje, multiplica os esforços para o adormecer e pede-lhe, três ou quatro vezes por ano, que se lembre da época colonial e que meça o imenso caminho percorrido”.
Apostila: Esta obra é uma edição de JV Editores, Maputo 2011. Revisão de língua e estrutura da obra: Fernanda Queirós e Maria Teresa Veloso
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