Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

LEGÍTIMA DEFESA




A diferença entre o euro e o dólar é a fragilidade do projeto europeu. Atrás do dólar há um Estado: o Estado americano. Há um Tesouro, que é o Tesouro americano. Há um presidente, que é o presidente dos EUA, que toma as decisões. E o que há por trás do euro? Um conglomerado de banqueiros irresponsáveis, mesmo perante seus próprios governantes, mesmo diante do governo europeu, que não existe. Portanto, não é nada (Samir Amin)

A apologética da política económica neoliberal rege-se por uma teia de conotações e associações de palavras como flexibilidade, maleabilidade, desregulamentação, reajustamentos, reformas estruturais, que tendem a fazer crer que a mensagem neoliberal é, usando as palavras de Pierre Bourdieu, “uma mensagem universalista de libertação”.
Acomodarmo-nos ou resistirmos a esta espécie de colonialismo do séc. XXI é a alternativa que nos é oferecida.
Tal como no colonialismo clássico, a libertação das garras dos exploradores é condição indispensável para a autodeterminação dos povos. As origens e a erradicação de um e de outro, radicam no mesmo tronco ideológico o que permite concluir por uma certa similitude nas formas e no conteúdo. Daí, o carácter de urgência na busca de alternativas à globalização do neoliberalismo e da farsa democrática que o suporta.
Nas colónias, o interlocutor válido e institucional do colonizado, o porta-voz do colono e do regime de opressão é o polícia e o soldado, como escreve Fannon. Nos territórios sob a tutela do FMI, as colónias do século XXI, o porta-voz do Fundo Monetário e das instituições aliadas, são governos de estirpe neoliberal que se apresentam ao eleitorado com um simulacro dum programa que tem muito pouco a ver com os acordos de “ajuda financeira”, já subscritos anteriormente, com as tão conhecidas e “democráticas” entidades financeiras internacionais.
As desigualdades mais gritantes estão estruturalmente entrincheiradas e simuladas no universo da demagogia. Para o neoliberalismo, qualquer tentativa de justiça social torna-se inócua por que novas desigualdades fatalmente ressurgirão. “A desigualdade é um estimulante que faz com que os mais talentosos desejem destacar-se e ascender ajudando dessa forma o progresso geral da sociedade. Tornar iguais os desiguais é contraproducente e conduz à estagnação”.
A apologética da austeridade, o fim das ideologias e os contorcionismos epistemológicos são a terapêutica de choque utilizada por grupos blindados ante o retrocesso social que eles próprios provocaram.

Ante o autoritarismo duma clique empenhada em demolir, uma a uma, as expectativas geradas por Abril, é chegada a hora de lutar pela defesa dos direitos e das liberdades dos cidadãos.

Estes novos senhores evocam constantemente a violência, e o risco de haver bloqueios de ruas e avenidas e sucederem práticas típicas de uma insurreição geral, omitindo que há diferentes espécies de violência, com diferentes funções. Há uma violência de agressão e uma violência de legítima defesa. Há a violência dos exploradores e a violência dos espoliados. Como designar  uma política obsessivamente austeritária que classifica o empobrecimento como o desígnio duma economia competitiva?
É neste território do neoliberalismo pronto a servir, que habitam a mentira, a demagogia e uma dimensão totalitária e indecorosa da política. É pois desejável ressignificar as coisas, o mundo e a sociedade, pugnando pela construção de um modo alternativo ao modelo neoliberal, numa época em que a distinção entre capitalismo e democracia parece ter sido esbatida e a liberdade reduzida a uma estratégia de mercado.



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