Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O CAPITAL



O economista francês Thomas Piketty publicou recentemente o Capital que foi fonte de grandes equívocos ao ponto de ser apelidado de “Um Marx moderno”. A escolha deste título é manifesta e deliberadamente oportunista.

Sobre o seu marxismo, é o próprio Piketty que responde: “Sobre o meu “marxismo” é absurdo – sou da geração pós-Guerra Fria, pós-comunista. Tinha 18 anos em 1989, quando o Muro de Berlim caiu. Nunca tive nenhuma tentação pelo comunismo. A questão para mim sobre o mercado ou a propriedade privada nem se coloca. Estou vacinado contra a retórica anticapitalista. A questão é meter o mercado ao serviço do bem comum e da democracia e não a democracia ao serviço do mercado.”

É ainda Piketty que na página 16, da edição portuguesa, escreve: O capitalismo produz de forma mecânica desigualdades insustentáveis, arbitrárias, voltando a pôr radicalmente em causa os valores meritocráticos nos quais se fundam as nossas sociedades democráticas. No entanto, existem meios para que a democracia e o interesse geral consigam de novo tomar as rédeas do capitalismo e dos interesses privados, afastando em simultâneo as derivas proteccionistas e nacionalistas. Este livro tenta lançar propostas nesse sentido, apoiando-se nos ensinamentos dessas experiências históricas, cuja narração constitui a trama principal da obra.

Mais adiante, pág. 810 o.c. afirma: “A propriedade privada e a economia de mercado não têm apenas por função permitir a dominação dos detentores do capital sobre aqueles que apenas detêm o seu trabalho: estas instituições desempenham também um papel útil para coordenar as acções de milhões de indivíduos, e de que não é assim tão fácil prescindirmos por completo. Os desastres causados pela planificação centralizada ilustram-no de modo bem claro.”

O carácter apologético do capitalismo humanizado conseguido através da colocação do mercado ao serviço do bem comum e da democracia e não a democracia ao serviço do mercado. Será pois através de uma progressividade fiscal, nomeadamente do imposto sucessório que, na opinião do autor, se alcançará o melhor dos mundos.

Nota: Piketty foi um dos 42 economistas franceses que, numa carta aberta, apoiaram François Hollande na candidatura presidencial.



Posto isto, é inevitável recordar ParaAlém do Capital e  O séculoXXI: socialismo ou barbárie?, do filósofo húngaro István Mészáros.

Obra de maior envergadura, Para além do capital, fruto de duas décadas de trabalho intenso, é uma das mais aguçadas reflexões críticas sobre o capital em suas formas, engrenagens e mecanismos de funcionamento.

Se Para além do capital é a obra maior de István Mészáros, quase sem paralelo pela envergadura e pela densidade, neste início do século XXI, o livro publicado com o título O século XXI: socialismo ou barbárie? é seu corolário político de combate”.

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