O CAPITAL
O economista francês Thomas Piketty publicou recentemente o Capital que foi
fonte de grandes equívocos ao ponto de ser apelidado de “Um Marx moderno”. A
escolha deste título é manifesta e deliberadamente oportunista.
Sobre o seu marxismo, é o próprio Piketty que responde: “Sobre o meu “marxismo” é absurdo – sou da geração pós-Guerra Fria,
pós-comunista. Tinha 18 anos em 1989, quando o Muro de Berlim caiu. Nunca tive
nenhuma tentação pelo comunismo. A questão para mim sobre o mercado ou a
propriedade privada nem se coloca. Estou vacinado contra a retórica
anticapitalista. A questão é meter o mercado ao serviço do bem comum e da
democracia e não a democracia ao serviço do mercado.”
É ainda Piketty que na página 16, da edição portuguesa, escreve: O
capitalismo produz de forma mecânica desigualdades insustentáveis, arbitrárias,
voltando a pôr radicalmente em causa os valores meritocráticos nos quais se
fundam as nossas sociedades democráticas. No entanto, existem meios para que a
democracia e o interesse geral consigam de novo tomar as rédeas do capitalismo
e dos interesses privados, afastando em simultâneo as derivas proteccionistas e
nacionalistas. Este livro tenta lançar propostas nesse sentido, apoiando-se nos
ensinamentos dessas experiências históricas, cuja narração constitui a trama
principal da obra.
Mais adiante, pág. 810 o.c. afirma: “A propriedade privada e a economia de
mercado não têm apenas por função permitir a dominação dos detentores do
capital sobre aqueles que apenas detêm o seu trabalho: estas instituições
desempenham também um papel útil para coordenar as acções de milhões de
indivíduos, e de que não é assim tão fácil prescindirmos por completo. Os
desastres causados pela planificação centralizada ilustram-no de modo bem
claro.”
O carácter
apologético do capitalismo humanizado conseguido através da colocação do mercado ao serviço do bem comum e da democracia e não a democracia ao
serviço do mercado. Será pois através de uma progressividade fiscal, nomeadamente
do imposto sucessório que, na opinião do autor, se alcançará o melhor dos
mundos.
Nota: Piketty foi um dos 42 economistas franceses que, numa carta aberta,
apoiaram François Hollande na candidatura presidencial.
Posto isto, é inevitável recordar ParaAlém do Capital e O séculoXXI: socialismo ou barbárie?, do filósofo húngaro István Mészáros.
Obra de maior envergadura, Para além do capital, fruto de
duas décadas de trabalho intenso, é uma das mais aguçadas reflexões críticas
sobre o capital em suas formas, engrenagens e mecanismos de funcionamento.
Se Para além do capital é a obra maior de István Mészáros, quase sem
paralelo pela envergadura e pela densidade, neste início do século XXI, o livro
publicado com o título O século XXI: socialismo ou barbárie?
é seu corolário político de combate”.
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