A IDEOLOGIA DO CONSENSO (12)
A VIOLÊNCIA
Eu amo as
gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo
para que a justiça social se implante antes da caridade. Paulo Freire.
Fala-se constantemente da violência, do risco de haver
bloqueamentos de ruas e avenidas e sucederem práticas típicas de uma
insurreição geral e finge-se ignorar que há diferentes espécies de violência, com
diferentes funções e origens. Há uma violência de agressão e uma violência de
legítima defesa. Há a violência dos exploradores e a violência dos espoliados. O que poderá conferir legitimidade, a uma
e a outra?
A
violência quando exercida pelo próprio Estado, condiciona e determina o clima
de coesão social. A ideologia da violência, fonte
inspiradora dos aparelhos ideológicos repressivos, garante os instrumentos ao
serviço da ordem estabelecida e cuja acção dirige-se, fundamentalmente, a
assegurar a obediência, mais ou menos cega, à ideologia dominante.
Vivemos hoje um tempo no qual em nome de uma tirania politica e
económica, que dá pelo nome de neoliberalismo, o empobrecimento e o retrocesso
social atingem níveis de violência intoleráveis.
As
políticas de austeridade, o empobrecimento deliberado, a destruição de direitos
conquistados ao longo de décadas, o direito à saúde, à educação, à reforma, à
protecção no desemprego e na doença, a delapidação do erário público, os crimes
económicos, as desigualdades sociais, a fome, e o consequente ostracismo social
são uma forma infame de violência considerada de inevitável por governos
indecorosamente autoproclamados de democráticos.
A
agressividade da ideologia dominante torna-se tanto mais evidente à medida que
largas camadas da população se apercebem das políticas de empobrecimento e de
destruição do País, e recusam a cumplicidade na reprodução da ordem
estabelecida através dos chamados ajustamentos estruturais impostos pelas
Troikas e, subservientemente, reconhecidos como inevitáveis por governos da
treta.
A violência desencadeada pelos interesses
privados triunfa sobre os direitos sociais, e dá forma à ordem neoliberal e
estabelece a fronteira que separa os interesses da
maioria dos cidadãos e a minoria constituída pelos detentores do Capital e,
pelos seus representantes, no Poder.
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