FECUNDANDO CAMINHOS
"Estamos num tempo em que todos temos de dar as mãos". E como é que isso se faz? "Fecundando caminhos que possam ser de todos". Crie-se, para tanto, "novos valores". Até porque, no final de contas, "vivemos todos neste planeta".
As ideias foram defendidas por Marcelino dos Santos, durante uma conferência sobre as relações Europa-África, na Universidade Lusófona, no Porto. Com a lucidez dos seus 78 anos e a sabedoria de uma vida plena de reflexão e de acção, o líder histórico moçambicano - foi um dos fundadores, em 1962, da Frelimo - classificou as relações Europa-África como "tema árduo". E porquê? "Falando as mesmas palavras será que estamos a falar da mesma coisa?", interrogou. E, logo a seguir, mais explícito "Será que um tribunal na Europa tem competência para julgar uma acção criminosa que tenha ocorrido em África? É que as leis locais, seja onde for, respiram a cultura própria", e isso tem de ser respeitado.
Daí o tom crítico usado em relação às decisões, de ontem e de hoje, das Nações Unidas (ONU). Ao tempo de Kurt Waldheim, foi aprovado um plano de desenvolvimento de Moçambique que implicava a entrega, em três anos, de 550 milhões de dólares ao Governo de Maputo; a ONU ficou-se por 90 milhões... Mais recentemente, e apesar do "não" da ONU a invasão do Iraque, comandada pelos Estados Unidos da América, aconteceu. "Como pôde George W. Bush fazer isso", questionou Marcelino dos Santos.
Por isso, a relação entre os dois continentes é vista com grande optimismo, sobretudo depois de uma conversa que manteve, anteontem, com o ministro português dos Negócios Estrangeiros, a propósito da Cimeira UE-África, marcada para Dezembro. A ligação futura, disse o antigo vice-presidente da Frelimo, só pode ser feita por "caminhos sãos", porque "o mundo de hoje já não suporta criações desiguais". "Chegou o tempo de resolver todos os problemas de forma pacífica e em igualdade, já não é tempo para oprimir", concluiu.
Paulo F. Silva (in Jornal de Noticias)
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