Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

MIGUEL TORGA:Hino à Capacidade de Indignação



Escrito por Rui Avelar e Paula Alexandra Almeida
08-Ago-2007
Nascido em Trás-os-Montes a 12 de Agosto de 1907, Adolfo Rocha foi médico (otorrinolaringologista) em Coimbra, onde adoptou o pseudónimo literário de Miguel Torga e faleceu a 17 de Janeiro de 1995.
Conceituado poeta, protagonizou nessa qualidade o seu último acto público ao enviar, em Setembro de 1994, uma mensagem ao Parlamento Internacional de Escritores (evento efectuado em Lisboa).
Ao aludir a um passado de quase meio século de ditadura, o escritor disse que uma “tenebrosa polícia política (a PIDE/DGS) e censura férrea fizeram de Portugal um inferno de condenados ao silêncio e à raiva contida”.
Em nome da “autoridade desse passado de resistência”, afirmou que “o Homem, quando perde a capacidade de indignação, perde a própria razão de ser”.
Neste contexto, lembrou que Portugal é uma das mais velhas nações da Europa e assinalou ter sido “a ânsia de liberdade do seu povo a emancipar o país dos demais territórios peninsulares”.
Segundo Torga, as democracias reinantes, “que deviam nivelar os homens por cima, nivelaram-nos ao rés-do-chão”. “No seu critério”, acrescentou, “somos nominais suportes do seu poder e é como cidadãos conscientes que queremos viver a dizer que não na hora de todas as subserviências e a ser verdadeiros na hora de todas as mentiras”.
“Nós somos essas vozes que até hoje clamaram no deserto, mas chegou a hora de nos fazermos ouvir, doa a quem doer, não como profetas fanáticos que são tiranos potenciais, mas como simples humanos que só querem o poder pleno da nossa condição”, afirmou Adolfo Rocha na mensagem dirigida ao Parlamento Internacional de Escritores.
Homem para quem “o universal é o local sem paredes”, Torga fez a apologia da condição de “livres e ecuménicos cidadãos, naturalmente irmãos de todos os semelhantes dos cinco continentes”.

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