Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

terça-feira, 25 de setembro de 2007

A LIBERDADE E O COMPROMISSO


É impossível escrever-se ou falar-se de cultura portuguesa no século XX sem referir Óscar Lopes. A dimensão deste homem corresponde ao entusiasmo com o qual consagrou a vida a unir sem apertar demasiado. Quero dizer: a estabelecer associações culturais entre paradigmas estéticos aparentemente dissemelhantes. O discurso e o reportório serviram de suporte a uma organização intelectual invulgar. Óscar Lopes não é, apenas, co-autor, com outro grande vulto, António José Saraiva, da História da Literatura Portuguesa. Assinou centenas e centenas de artigos; publicou dezenas de estudos sobre criadores, os mais diversos; ensaiou a matemática na análise de estruturas verbais; prefaciou livros, estimulou a lucidez crítica, foi um professor excepcional. "Um Senhor de Matosinhos", como no belíssimo poema, em sua homenagem, lhe dedicou Vasco Graça Moura. Óscar Lopes completa 90 anos em 2 de Outubro. Cumpriu o fado de viver num tempo de opróbrio: foi preso, impedido de dar aulas, o nome suprimido na imprensa. Este homem adverso ao dogma e permanentemente aberto à interrogação sempre defendeu que a cultura é o grande espaço da responsabilidade e do compromisso. E defendeu esses conceitos com uma obstinação apenas explicável pela sua têmpera de mármore num corpo só na aparência de porcelana. Merecia tudo o que a pátria lhe devia. A pátria nunca foi pródiga para os seus maiores. Modesto, recatado, discreto e grandioso, Óscar Lopes interpelou os mistérios das ciências humanas, procurando dilucidar os aspectos menos claros da antropologia cultural, estrutural e social. Evitou os clamores do marquetingue e as tubas efémeras do "mediático". Recolhido na casa da Rua de Belos Ares, ergueu uma obra monumental e ímpar. A Cooperativa Árvore e o editor Cruz Santos decidiram homenagear (de 10 a 14 de Outubro) o grande intelectual e a coerência inexpugnável do cidadão. Pensaram editar um volume com os textos de Óscar Lopes sobre o Porto. Pediram o apoio da câmara. Como as inclinações de Rui Rio para a cultura deslizam entre o nada e a indiferença, até agora nenhuma resposta. Esclareça-se que a edição importaria, quando muito, em três mil euros. Também o Ministério da Cultura, cuja titular vai falar na sessão inaugural, se alheou de subvencionar a iniciativa.Não se constrói um Estado moderno sem relações culturais abertas. A liberdade de identidade implica a existência de uma cultura política de que, notoriamente, este Executivo não é detentor, assim como o não é de uma política cultural. O caso Óscar Lopes é outro dos muitos exemplos. Perseguido, encarcerado, no salazarismo; ignorado, hostilizado, menosprezado na "democracia". Menos por aqueles que o admiram.

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