Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

MIA COUTO GALARDOADO EM ITÁLIA



Mia Couto primeiro escritor africano distinguido com este prémio
A carreira literária de Mia Couto foi agora distinguida com o Prémio União Latina de Literaturas Românticas, pela primeira vez atribuída a um escritor africano.
Este prémio, já na sua décima sétima edição, foi instituído para homenagear a diversidade do património literário latino, consagrando anualmente um romancista de língua latina cuja obra é considerada como merecedora de difusão e tradução nas outras línguas latinas.
São 12 mil euros para distinguir uma obra literária de um autor de língua latina.
"Originalidade" e "poder criativo" foram os principais argumentos apontados pelo júri para a escolha do nome de Mia Couto para receber este galardão instituído em 1990.
A singularidade criativa de que falou o presidente do jurí, Vincenzo Consolo - ele próprio premiado em 1994 -, está fortemente ligada às raízes do escritor que "parte da realidade do seu país para exaltar o poder da vida e a alegria de viver, mesmo se, por vezes, em condições extremamente dramáticas."
Com este prémio, o júri pretendeu também reconhecer e premiar "a participação dos africanos de língua portuguesa, e em particular os moçambicanos, na revitalização e construção desse idioma."
Este ano, a concorrer com Mia Couto, estavam os escritores Maria Velho da Costa, por Portugal, Patrick Modiano (França), Fernando Vallejo (Colômbia), Jaume Cabré (Espanha), Luigi Meneghello (Itália) e Aminata Sow Fall (Senegal).
Mia Couto foi eleito à quarta volta do escrutínio, depois de Aminata Sow Fall e Lídia Jorge terem decidido oferecer o seu voto ao escritor da Beira, uma vez que os seus candidatos não reuniam o consenso necessário.
O juri do prémio sublinhou ainda que "para além da euforia vocabular - que vem influenciando escritores mais jovens em todo o espaço da língua portuguesa - Mia Couto revelou-se igualmente um extraordinário contador de estórias na mais pura tradição africana".
Antes do autor moçambicano, a língua portuguesa já vencera três vezes o Prémio União Latina, pela mão de José Cardoso Pires (1991), Agustina Bessa-Luís (1997) e António Lobo Antunes (2003).
Confrontado com a multiplicidade de adjectivos com que o juri o granjeou, o autor diz que tem dificuldade em olhar para o seu trabalho "como algo que se constroi como uma carreira" e que escreve "por prazer".
Ainda assim, Mia Couto diz-se muito satisfeito com o reconhecimento agora granjeado, que diz ser também o reconhecimento da escrita feita em África e a "confirmação da vocação da União Latina (...) de cobrir territórios geográficos e culturais muito diversos".


O seu colega de profissão, profundo conhecedor da obra de Mia Couto e membro do jurí deste ano, o escritor angolano José Eduardo Agualusa, destacou o papel do moçambicano na "renovação da língua portuguesa".
Eduardo Agualusa destaca o poder de influência da obra de Mia Couto noutros escritores de língua portuguesa
Para Agualusa Mia construiu "um universo e estilos muito próprios (...), um mundo literário que tem muito a ver com o mundo rural, com as tradições e a mitologia do mundo rural de Moçambique".
Para o escritor angolano o reconhecimento da obra literária do seu colega Mia Couto, é também "o reconhecimento de que a língua portuguesa é um idioma pertença de todos aqueles que a falam, que é uma língua viva (...) e que hoje está a ser construída em grande medida em áreas novas onde se fala o português".
Agualusa adianta que no seu entender, em África as outras tem outra relação com a língua, mais lúdica e mais descomplexada", para além de que em África, "o português não está sózinho, está em contacto com outras línguas", tirando dai muitas vantagens e fazendo com a língua portuguesa se renove hoje a partir de África.


A escritora portuguesa Lídia Jorge, outro dos membros do jurí, e cuja escolha incial era a também portuguesa Maria Velho da Costa (mas que acabou por apoiar a escolha de Mia Couto quando a sua candidata não reunia o consenso necessário) realçou as qualidades do escritor moçambicano.
Lídia Jorge afirma que na obra de Mia Couto se destaca o "recardo de África que ele traz para o mundo da latinidade".
Para a escritora, Mia Couto faz esta transposição "através do veículo que é a língua portuguesa, que ele, como alguns outros escritores - mas talvez nenhum como ele da mesma zona geográfica - consegue trabalhar de uma forma tão extraordinária".
Lídia Jorge realça ainda que Mia Couto "consegue incorporar na literatura o drama do seu país, e a invenção do seu país, da mesma forma que é capaz de fantasiar aí em torno e trazer um mundo onírico transformado para a literatura, que acaba por ser uma espécie de festa da língua e da cultura através do português, mas proveniente daquilo que é a realidade africana".

A revitalização e contrução da língua portuguesa pela mão de Mia Couto é outro aspecto salientado por um seu conterrâneo, o escritor Suleimane Cassamo, que insiste ainda na originalidade da obra de Mia Couto.
Cassamo destaca a "criatividade" da obra de Mia Couto, que no seu entender representa "não só o expoente da literatura moçambicana, mas também da língua portuguesa" no seu sentido mais lato.
Suleimane Cassamo acrescenta ainda que "a nível da recriação da língua portuguesa" Mia Couto "tem desenvolvido um trabalho notável".

O jurí da União Latina frisou a "originalidade e poder criativo de um escritor que parte do seu país para exaltar o poder da vida e a alegria de viver, mesmo se, por vezes, em condições extremamente dramáticas".
Confrontado com estes adjectos, Mia Couto diz-se "tocado", pois estes aspectos "ultrapassam a sua obra literária, e até a própria literatura moçambicana".
Mia Couto acrescenta que estas referências têm contudo a ver com o espírito moçambicano e africano em geral, pela "capacidade de produzir alegria, a capacidade de dar uma resposta feliz, positiva" mesmo perante a adversidade.

Luís Cardador em Londres

2 comentários:

Anónimo disse...

Ja agora aproveito para informar, caso na esteja ao corrente, que o Mia ganhou ha uns dias tambem o quinto premio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, no Brasil. E um premio bastante importante e parece que o romance "O outro pe da sereia" esta tambem seleccionado na lista de finalistas para outro premio tambem no Brasil...mas o Mia couto merece-o!
Luis

AGRY disse...

Obrigado pelo seu comentário e pela sua participação.Apareça quando puder.Será bem recebido
Agry