RECORDANDO POETAS DE QUE GOSTO - 3
António Jacinto do Amaral Martins, nasceu no Golungo Alto em 1924.
Por razões políticas esteve preso entre 1960 e 1972. Militante do MPLA foi Ministro da Educação de Angola e Secretário de Estado da Cultura.
Co-fundador da União de Escritores Angolanos e membro do Movimento de Novos Intelectuais de Angola, participou sempre de forma muito activa, na vida política e cultural angolana. Colaborou com produções suas em diversas publicações e foi membro da revista Mensagem. Como escritor de contos, António Jacinto usava o pseudónimo de Orlando Távora.
Em 1993, o Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD) do então Ministério da Cultura, instituiu o Prémio Literário António Jacinto como uma homenagem ao poeta e contista angolano. Faleceu em 1991.
MONANGAMBA
Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações:
Naquela roça grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinqüenta angolares
"porrada se refilares"?
Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
- Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
maquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande - ter dinheiro?
- Quem?
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
- "Monangambééé..."
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
in As Tormentas compilação de Luis Rodrigues
Imagens in Poetas de expressão portuguesa - Margarida B. Lopes
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