Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O ENIGMA NA DEFINIÇÃO DE INTERVENÇÃO SOCIAL


Tenho alguma dificuldade em decifrar o enigma traduzido na definição de intervenção social, versus verdade sociológica, e de recusa ao apelo do pensamento doutrinário.
Em Samir Amin e István Mészáros, para citar apenas alguns dos maiores pensadores marxistas vivos, as suas críticas das realidades sociais, desde o inicio das suas carreiras de pensadores e analistas do social, sempre estiveram ligadas à prática politica.
A divulgação avulsa, descontextualizada de textos dos marxistas clássicos, por parte de alguns anti-comunistas, revela não só uma desonestidade intelectual como, sobretudo, uma total ausência de referências de suporte às suas tão enraizadas e assépticas convicções.
Recordarei a 3ª tese sobre Feuerbach:
“A doutrina materialista da influência modificadora das circunstâncias, e da educação, esquece que as circunstâncias são modificadas pelos homens e que, também, o educador precisa de ser educado. Por isso, essa doutrina é forçosamente levada a dividir a sociedade em duas partes, uma das quais se eleva acima da sociedade.
A coincidência do meio e da actividade humana –ou na mudança no EM-SI do homem, não pode ser racionalmente concebida nem apreendida, a não ser enquanto prática revolucionária”.

10 comentários:

Patricio Langa disse...

Deixe-me antes de mais felicitá-lo/a pelo seu blog. Penso tomou uma “boa” decisão em criar o seu próprio espaço, espero, de debate aberto e franco de ideias. Se o seu espaço é novo, assim já não o são as suas ideias e posições. Eu sou contra a ideia de alianças cegas nas nossas ideias, como deve ter se apercebido. Sei que estou a ser pretensioso ao sugerir que lê o que escrevo, mas, enfim, atrevo-me a correr o risco. É que há uns tantos que não cometam em blogs alheios mas referem-se sistematicamente aos seus conteúdos nas suas reacções.

Esta intervenção (devo dizer que cheguei ao seu espaço através do Diário de um Sociologo) vem a propósito desta passagem que retiro do seu texto.

“A divulgação avulsa, descontextualizada de textos dos marxistas clássicos, por parte de alguns anti-comunistas, revela não só uma desonestidade intelectual como, sobretudo, uma total ausência de referências de suporte às suas tão enraizadas e assépticas convicções”.

Que eu saiba, no contexto do debate que decorre em alguns dos blogs moçambicanos sobre o engajamento, a pessoa que se referiu as teses de Feuerbach foi o sociólogo Elísio Macamo.

Poderia ser mais explícita explicando-me (nos) em que sentido é que a referencia as teses reflecte o conteúdo do seu comentário? Em termos metodológicos qual é a diferença entre a sua e a forma do E.M referir-se a essa fonte? Esta a espera que E.M fizesse fornecesse toda a referência bibliográfica? É disso que se trata? Ou conteúdo da mensagem foi distorcido no seu entender?

Bem vindo/a a blogosfera.

AGRY disse...

Devo, em primeiro lugar, agradecer-lhe o comentário.Pessoalmente, não me atrevo a produzir comentários em alguns blogs,porque os seus autores estabelecem, à partida, determinadas condicionantes.
Por outro lado, procuro não ser deselegante quando visito um qualquer blog.
Esta gestão não é nada fácil.
Por agora, devo esclarecê-lo que exijo dos outros a prática que eu próprio assumo, isto é,recuso-me a publicar comentários insultuosos como alguns que já tive oportunidade de ler noutros locais.
Aguardo que surjam outras opiniões. Terei, certamente, algo a acrescentar

Elísio Macamo disse...

boa tarde,
tal como o patrício langa fiquei curioso em saber se este seu comentário se refere às reflexões que fiz ultimamente em relação a marx no meu blogue e que por serem críticas a algumas ideias de marx não precisam de ser anti-comunistas.
por ter visto a referência ao seu comentário no blogue "diário de um sociólogo" pensei que talvez eu fosse o visado. se houver interesse numa discussão, vamos a isso. tenho lido com muito interesse as suas contribuições nos vários debates nesse outro blogue e retive a impressão de uma pessoa que também debate ideias.
sendo assim, espero que - caso o seu comentário se refira à minha reflexão - não queira emular alguns hábitos nocivos ao debate académico promovidos pelo "díario de um sociólogo" e que consistem apenas em fazer insinuações, distorcer o que os outros escrevem e furtar-se constantemente ao debate aberto e honesto de ideias. o meu blogue está aberto a todos quantos queiram debater ideias. os meus comentários noutros blogues procuram também debater ideias. o meu único dogma é que é possível chegar a um entendimento sobre o método que usamos para procurar encontrar a "verdade" e que a prática académica tem mais a contribuir para a sociedade se se ocupar mais disso.
se o seu comentário se refere a uma outra pessoa - o que até pode ser mais correcto, pois a minha reflexão não é nem avulsa, nem descontextualizada - peço imensas desculpas por este pedido pretensioso de esclarecimento.

AGRY disse...

Em primeiro lugar, devo agradecer-lhe as felicitações a propósito deste blog
BREVE RESPOSTA AO SEU COMENTÁRIO
Carece de fundamentação, e é preconceituosa, a sua afirmação de que as minhas ideias são velhas. Estabelecer níveis etários para as ideias parece-me um bocado forçado.
Infelizmente, descobri o seu blog há poucas horas. Visitá-lo-ei certamente com frequência que ele, seguramente, merece.
Não quero ( não queria) entrar em polémicas do tipo paroquial mas, isto, não me poderá inibir de lhe devolver a crítica que me faz. Refiro-me à sua afirmação sou contra a ideia de alianças cegas nas nossas ideias. Não surgiu neste blog em defesa de terceiros?
Nunca pretendi assumir ares de detentor da verdade. Gosto da briga pelas ideias
sobretudo se o puder fazer com interlocutores que me tragam uma mais valia.
Sou ( ou julgo ser) um homem de esquerda. Devo confessar que, apesar de toda a tolerância que defendo e cultivo, tenho muita dificuldade em me relacionar com anticomunistas primários.
Relativamente à polémica que estalou no seio da comunidade blogger, ela me surpreendeu, pela negativa.
A agressividade roçou, nalguns casos, a grosseria primária.
Também ainda não consegui perceber, em profundidade, as razões que conduziram alguns bloggers a emboscar Carlos Serra. Como interpretar O miserável convite ao desafogo ou a recusa ao debate?
É uma pena que pessoas que outrora foram exemplo a seguir em matéria de como conduzir um debate de ideias decente e prudente sejam as primeiras a dar exemplo deplorável. Parece um acto de auto flagelo. Parece que tudo que escrevera, por exemplo, no decálogo do “Combates pela mentalidade...” fora escrito num momento de alucinação. Agora, mostra-nos sua verdadeira face! Não consigo entender tanta baixaria (P.L.)
E isto?
Eu, pessoalmente, e todos os que fazem parte da seita à qual pertenço, temos um entendimento da sociologia que considera importante fazer a distinção entre crítica social e desabafo. (E.M.)
E mais: cita-se, profusamente, Carlos Serra.
Aprendi, de muito jovem, a ser leal com os amigos. Não tenho o prazer de conhecer Elísio Macamo nem o Patricio Langa. A tomar partido, nesta polémica, o que seria de esperar de mim?
Também existe, entre mim e Carlos Serra, muita identidade do ponto de vista politico e ideológico.
Tenho alguns (poucos) amigos de direita e não o deixámos de ser, por isso. Já o éramos antes da separação ideológica.
Reafirmo, para terminar, que sou um convicto cidadão de esquerda mas recuso imobilismos, fundamentalismos e outros da mesma família. Pior ainda: considero a extrema direita, a tal que gera os anticomunistas primários, o que há de mais execrável à face da terra
Saudações
Agry

AGRY disse...

BREVE RESPOSTA AO SOCIÓLOGO ELISIO MACAMO
Obrigado pelo seu comentário e pela abertura expressa no que respeita à total disponibilização do seu blog para o debate de ideias. Sei muito pouco a seu respeito mas o suficiente para perceber estar na presença de um prestigiado académico moçambicano.
Mantive-me, na expectativa de receber alguns comentários ao meu breve e aparentemente polémico comentário.
Não se trata aqui de colagens nem de emulações ou de qualquer tipo de subserviências
De imediato, ocorre-me dizer que foi em boa hora que me decidi por aquela postagem pois, foi graças a ela, que o Navegador Solidário foi visitado por tão ilustres analistas do social.
Não existe nas minhas palavras nem ironia nem elogio fácil, acredite.
Uma “investigação” apressada das motivações ocultas que teriam dado origem ao post no Diário de um Sociólogo, transportou-me para a blogosfera. Aqui cruzei-me, de facto, com o seu blog.
Não me custa reconhecer que, muitos de nós, carregam certos tiques, certos preconceitos, os quais têm a ver com a timidez e o provincianismo do debate em que estamos, há séculos mergulhados.
Por via disto, a minha geração está profundamente marcada com a intolerância de que foi vítima durante décadas. Não desconhece, certamente, a arrogância dos anticomunistas.
Há mais de meio século, Bertrand Russell já se insurgia contra este tipo de gente.
A adjectivação da personalidade e do sociólogo Carlos Serra, provocou em mim uma certa revolta justamente porque o que li, e o dele conheço, não coincide, minimamente, com os impropérios que lhe foram dirigidos.
Li comentários no seu, e noutros blogs, que confirmam o apreço que tenho por este sociólogo. A diferença, e eu ainda não a entendi, tem a ver com uma aparente mudança de humor da parte de alguns académicos que, abruptamente (assim o julgo), alteraram o seu conceito acerca da personalidade de Carlos Serra.
Assim ,não será apropriado falar-se de uma tempestade num copo de água .Foi um autêntico tsunami que se dirigiu para as costas do Prof. Serra.
Foi neste contexto, que produzi o meu comentário.
Em Outubro último, inseri no meu blog dois comentário que designei,respectivamente,
“A PROPÓSITO DE UMA CERTA DIREITA” e “OS NOVOS PROFETAS”.
Talvez esteja a divagar. Vou ser breve.
Prefiro mil vezes penitenciar-me pelo facto de não estar na presença de anticomunistas conspiradores apostados em desacreditar alguém que soube conquistar, pela sua postura, o apreço de muitos, a ver confirmada toda a justeza das palavras que suportaram a minha postagem.
Os meus cumprimentos
Agry

Elísio Macamo disse...

caro agry, muito obrigado pela sua resposta. confirma a opinião que tenho de si. não consegui, contudo, perceber se se referia a mim no comentário em questão. penso que isso seria importante para eu reagir ao nível do conteúdo do que escreveu, caso contrário estaria a levantar tempestade em copo de água.
sobre os comentários em relação a carlos serra, cujo trabalho tenho em muito alto apreço, devo dizer que teremos que entrar mesmo em desacordo. estou profundamente decepcionado com a forma como ele promove a cultura académica. ao contrário dele, contudo, escrevo isso abertamente no meu blogue e não faço nenhumas insinuações insultuosas como ele sempre tem feito. posso lhe citar vários exemplos de referências caricaturadas a argumentos que eu tento desenvolver, referências sem nome e atribuição, mas cujo autor é evidente para todos quantos andam pela blogosfera moçambicana. alguns exemplos: a) em tempos escrevi, numa reflexão sobre como as normas e regras surgem, que o trânsito flui em maputo porque os motoristas não respeitam as regras de trânsito; dias depois fui ver no seu blogue a afirmação totalmente descontextualizada segundo a qual ninguém devia parar no sinal vermelho se não quer causar acidente; b) critiquei, no próprio blogue de carlos serra, alguns relatórios sobre a corrupção, e dias depois fui lá ler indirectas sobre os que se preocupam apenas com o conceito e negam a existência do fenómeno por falta de clareza do conceito; c) quando escrevi sobre o desabafo e crítica social ele reagiu com uma postagem fazendo referência a um "fogoso sociólogo"; e muito mais. pode ser pretencioso da minha parte, mas acredito que uma boa porção dos seus aforismos é resposta indirecta às reflexões metodológicas que tenho tentado fazer como contribuição para o cultivo da mentalidade sociológica que ele próprio emula. a qualificação mais negativa que usei foi de "irresponsável" referindo-me não à pessoa, mas ao tipo de cultura académica que ele me parece promover.
eu acho que ele e eu, bem como muitos outros académicos moçambicanos, temos muita responsabilidade perante os mais jovens. podemos ter opiniões diferentes e não querermos dizer isso abertamente. contudo, quando usamos a ironia e a insinuação como maneira de fugir ao debate, ultrapassamos as fronteiras do que é admissível entre colegas. estou, repito, profundamente decepcionado e ofendido.

AGRY disse...

Eu é quem agradece. Por outro fiquei com a esperança de ver a familia sociológica moçambicana, finalmente reconciliada.
A minha postagem foi, sim senhor, inspirada na que vi no seu blog.
Desculpe-me mas ainda não me ausentei por uma questão de elegância.É que tenho coisas inadiáveis a fazer,desculpe

Elísio Macamo disse...

caro agry, também vou me ausentar e aproveito desejar-lhe um bom ano de 2008. penso que vai ficar a dever-me uma explicação da "desonestidade intelectual e total ausência de referências de suporte às minhas tão enraizadas e assépticas convicções" para eu saber como responder. também estaria interessado em saber em que medida a reflexão sobre dois aspectos dos escritos de marx (11 tese e correspondência com proudhon) constitui "divulgação avulsa, descontextualizada de textos dos marxistas clássicos". se insisto sobre isto é justamente por causa da forma como o seu comentário foi citado no "diário de um sociólogo" sem nenhuma contextualização do que quer dizer e o meu receio de que ele seja lido como a revelação da verdade sobre o que eu escrevi. se eu citasse um comentário qualquer no meu blogue teria, por respeito às regras do debate académico, se não mesmo por respeito aos colegas, tido o cuidado de explicar o contexto em que esse comentário surge e a contribuição que eu acho que ele faz à discussão. são estas coisas elementares que me preocupam.
já explicou "anti-comunistas" e aí devo lhe dizer, como aliás terá percebido das minhas postagens, que tenho uma admiração muito especial pela forma de escrever de marx (e mesmo de engels). não me considero marxista, mas acho as suas análises interessantes e estimulantes. por essas razões reflicto sobre o que marx escreveu, ainda que, em alguns casos, seja para me distanciar. reflicto sobre marx para estimular os jovens que visitam o meu blogue a também lerem e formarem a sua opinião e perderem este hábito pernicioso no nosso país de ir à procura de ídolos sem nenhum sentido crítico.
eu acho que a família sociológica moçambicana se pode facilmente reunir se houver acordo honesto e aberto quanto à divergência de opiniões em relação a certas coisas. talvez pessoas como o agry, com a sua maneira ponderada e directa de debater ideias, nos ajudem a regressar ao que realmente interessa.
mais uma vez, bom ano de 2008! talvez ainda volte a comentar a sua resposta à minha interpelação sobre marx e índia.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Uma bela controvérsia entre moçambicanos! Um dos seus amigos tem o blogue blindado. :(
Apenas li o Olhar Sociológico. Interessante!
Alianças cegas refere-se a "alianças entre bloguistas com determinada linha política"? Uma guerra entre sociólogos! Será que o marxismo é uma sociologia? Curioso: não vejo essa perspectiva nos textos de Marx. Donde resulta que a "sociologia marxista" pode ter desgastado a sua matriz. Mudança de paradigmas é tarefa urgente para fazer face aos novos desafios. :))

AGRY disse...

Socilogia e Filosofia de Karl Marx, da Zahar Editores, recomenda-se