Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

sábado, 23 de fevereiro de 2008

BRUTALIDADE DA DESCOLONIZAÇÃO MERECE PEDIDO DE DESCULPAS


Vivi a maior parte da minha vida em África. Em Moçambique mesmo quando o professor Adriano Moreira acabou com legislação racial ficou no quotidiano colonial uma prática segregacionista com a mesma força dos letreiros Whites Only na África do Sul...
...A massa colonizadora não estava consciente da identidade humana de quem nos rodeava na terra que ocupámos. A repulsa com que os ideais igualitários foram recebidos nas colónias foi o sustento das políticas nacionalistas que nos acabaram por vitimizar a todos, locais e expatriados...
...Infelizmente as utopias revolucionárias de Neto e Machel não acabaram com a desumanidade e as trevas. Ter criados no Maputo é tão frequente agora como o foi em Lourenço Marques. Morrer nos arredores de Luanda e deixar que um cadáver se funda na paisagem é tão banal hoje como nas descrições de Conrad no princípio do século passado. Os horrores relatados hoje por Rafael Marques nos campos diamantíferos de Angola são idênticos às denúncias do bispo de Nampula e do padre Hastings nos anos setenta em Moçambique...
...Podíamos começar por pedir desculpa e talvez parássemos com este nosso quotidiano de exploração de trabalho ucraniano ou brasileiro ou cabo-verdiano em casas de alterne ou nos condomínios privados (não há grande diferença). Não devemos tolerar com indiferença que o terrível apagar das consciência que Conrad nos relevou continue aqui na “Metrópole” neste novo século em que as hordas de serviçais descartáveis vindos de S.Tomé ou Bucareste, chegada a noite desaparecem em pequenos quartos na Cova da Moura, deixando-nos a cidade livre. E nós, com a tradição que mantivemos intacta, continuamos a não notar o que fazemos. Pedir desculpa pelo que fizemos era um passo para por fim ao que fazemos e nas palavras de Luther King no seu I Have a Dream, depois de as pedir, poderíamos dizer muito alto “Aleluia, finalmente estamos livres”. Confira aqui

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