Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

quarta-feira, 23 de julho de 2008

AS DUAS FACES DO GUETO


Em ”As duas faces do gueto”, o sociólogo Loïc Wacquant analisa o aparecimento de um novo regime de marginalidade urbana nas sociedades ocidentais. A partir da implantação da agenda neoliberal, passa-se de uma fase de investimento em políticas de bem-estar social para políticas de penalização da pobreza.
Com rico material de campo, o autor conduz o leitor ao gueto norte-americano, dissecando a estrutura do que chama de “cidade negra dentro da branca”. Não só descreve o espaço de segregação racial como também elabora um conceito relacional de gueto: “instrumento institucional composto de quatro elementos – estigma, restrição, confinamento espacial e enclausuramento organizacional”. Por um lado, o gueto perpetua a exclusão e a exploração económica e, por outro, garante certa protecção ao permitir alternativas de organização e autonomia cultural – daí suas duas faces.
Wacquant critica o aumento generalizado das populações carcerárias, cujo controle se torna cada vez mais custoso. Diz: o sistema penal se tornou uma forma de conter as mazelas sociais que decorrem da ausência de políticas sociais. Segundo ele, as prisões “se transformaram em aterro sanitário para dejectos humanos de uma sociedade cada vez mais directamente subjugada pelos ditames materiais do mercado e da compulsão moral da responsabilidade pessoal”.
As duas faces do gueto, primeira obra de Loïc Wacquant publicada pela Boitempo, é fundamental para aqueles que pretendem entender o que está por trás de fenómenos comuns a todas as metrópoles mundiais: segregação da pobreza, aumento da violência e incapacidade de resolver a questão com medidas puramente repressivas. Uma reflexão extremamente necessária para desenvolver o pensamento crítico em tempos de aprofundamento de desigualdades.Confira aqui

Sem comentários: