Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

OS VÍCIOS HISTÓRICOS DA ESQUERDA

O ex-líder guerrilheiro tupamaro e actual senador, José “Pepe” Mujica, foi ontem(14) escolhido para ser o candidato da Frente Ampla (coligação que governa o Uruguai) à presidência da República, nas eleições gerais de Outubro de 2009.
Mujica foi um dos líderes da guerrilha tupamara que pegou em armas contra a ditadura militar que governou o país de 1973 a 1985. Junto com os principais dirigentes tupamaros, ficou mais de doze anos preso em quartéis uruguaios. Desceu ao fundo do poço, literalmente. Ele fez parte de um grupo que ficou conhecido como “os reféns”. Os integrantes deste grupo foram submetidos a um regime de destruição física, moral e mental que incluiu dois anos de encarceramento no fundo de um poço. Foram, praticamente, enterrados vivos.
Numa entrevista concedida à Carta Maior, que pode ler
aqui, afirmava a propósito dos vícios da esquerda:
Uma das características da esquerda em qualquer parte do mundo é sua tendência à atomização. Cada organização de esquerda costuma acreditar que possui a verdade revelada e que tem que lutar contra as outras organizações. E isso é visto como uma questão de princípio, capaz de fazer correr sangue. Então, para juntar a gente de esquerda, é horrível, em qualquer parte do mundo. É bom ter uma humildade de carácter estratégico diante dos compromissos que temos pela frente, que não são exactamente singelos, do tipo daqueles que autorizam a arrogância e a soberba como métodos de conduta. Outro problema que precisamos resolver é que a esquerda tem o mau hábito de crescer e perder de vista o pensamento estratégico, ficando imersa em movimentos táticos de curto prazo, perdendo a capacidade de pensar.
Precisamos ter a inteligência de superar nossas pequenezas e nosso chauvinismo ou então não vamos fazer nada. Se esses vícios continuarem, estamos fritos. Uma última coisa: como militantes, precisamos nos lembrar que as credenciais também envelhecem e devem ser constantemente renovadas. Cada conjuntura histórica exige que elas sejam renovadas. Não há nenhuma garantia de nada. Por isso, é importante olhar o passado, mas também é preciso perder o respeito. É preciso haver novos partos, é preciso vir gente nova.

3 comentários:

Koluki disse...

Entrevista muito interessante.

AGRY disse...

Koluki
De facto. Fiquei completamente rendido. “Não conseguiremos mudar o mundo com gritos, o que é preciso mudar, em primeiro lugar, é a nossa conduta. Precisamos ter a inteligência de superar nossas pequenezas”

Unknown disse...

Caro Agry
As palavras do Mujica foram uma triste e infeliz verdade. Para quem, como eu, viveu entre o labor profissional da notícia e a prática política clandestina durante as décadas de 1960 e 70, posso confirmar quase tudo que o Tupamaro disse. Um quadro que hoje está a ser alterdao por esses novos líderes da América do Sul. Aliás, a escolha de Mujica, mais do que uma justiça histórica, é uma tardia homenagem a um dos mais generosos e sensíveis políticos que conheci - Raúl Sendic. Creio que com os Tupas o Uruguai muito avançará no sentido da real democracia e sentimento de integração latinoamericana.
E aproveitando o espaço, receba o meus fraternos abraços e votos de alegres e felizes festas, além de um 2009 capaz de preencher os sonhos de Liberdade, Paz, Fraternidade, Democracia e Igualdade de todos os homens do mundo.