Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

DESVENTURAS DA CONSCIÊNCIA NACIONAL (II)

“O povo estagna lamentavelmente numa miséria insuportável e toma lentamente consciência da inqualificável traição dos seus dirigentes” Fanon


A burguesia nacional descobre a missão histórica de servir de intermediário. Não se trata de uma vocação para transformar a nação, mas prosaicamente para servir de correia de transmissão para um capitalismo disfarçado e que se cobre, hoje, com a máscara neocolonialista. A burguesia nacional vai comprazer-se, sem complexos e com toda a dignidade, no papel de agente de negócios da burguesia ocidental. Esse papel lucrativo, essa função de pequeno financeiro, essa estreiteza de vistas e essas ausências de ambição simbolizam a incapacidade da burguesia nacional de cumprir o seu papel histórico de burguesia.

No seu aspecto decadente, a burguesia nacional será consideravelmente ajudada pelas burguesias ocidentais que se apresentam como turistas amantes de exotismo, de caça e de casinos.

A burguesia nacional organiza centros de repouso e de recreio, curas de prazer para a burguesia ocidental. A essa actividade dar-se-á o nome de turismo e será comparada circunstancialmente a uma indústria nacional.

Sem ideias, fechada sobre si própria, desligada do povo, minada pela sua incapacidade congénita de pensar o conjunto dos problemas em função de toda a nação, a burguesia nacional vai assumir o papel de gerente de empresas do Ocidente e transformará praticamente o seu país em lupanar da Europa.

(Os Condenados da Terra – Frantz Fannon)

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