DESVENTURAS DA CONSCIÊNCIA NACIONAL (I)
“O povo estagna lamentavelmente numa miséria insuportável e toma lentamente consciência da inqualificável traição dos seus dirigentes” Fanon
A burguesia colonial que toma o poder no fim do regime colonial, é uma burguesia subdesenvolvida. O seu poder económico é quase nulo e, seja como for, sem comparação com o da burguesia metropolitana que ela pretende substituir. No seu narcisismo voluntarista, a burguesia nacional convenceu-se facilmente de que poderia substituir e com vantagem a burguesia metropolitana.
Os quadros universitários e comerciantes que constituem a fracção mais esclarecida do novo estado caracterizam-se, com efeito, pelo seu pequeno número, pela sua concentração na capital e pelo tipo das suas actividades: negócio, explorações agrícolas, profissões liberais. No seio dessa burguesia nacional, não há industriais nem financeiros. A burguesia nacional dos países subdesenvolvidos não está orientada, para a produção, para a invenção, para a construção e para o trabalho. E está inteiramente canalizada para actividades de tipo intermédio. Entrar no circuito, conhecer os truques, parece ser essa a sua vocação profunda. A burguesia nacional tem uma psicologia de homens de negócios e não de capitães de indústria.
No sistema colonial, é impossível uma burguesia que acumule capital. Ora, precisamente, parece que a vocação histórica de uma burguesia nacional autêntica, num país subdesenvolvido, consiste em negar-se como burguesia, em negar-se como instrumento do capital e em tornar-se totalmente escrava do capital revolucionário constituído pelo povo.
Num país subdesenvolvido, uma burguesia nacional autêntica deve ter como dever imperioso trair a vocação a que estava destinada, ir à escola do povo, isto é, pôr à disposição do povo o capital intelectual e técnico que extorquiu por ocasião da sua passagem pelas universidades coloniais. Veremos, infelizmente, que muitas vezes, a burguesia nacional se desvia dessa via heróica e positiva, fecunda e justa, para se introduzir tranquila, na via horrível, porque antinacional, de uma burguesia clássica, de uma burguesia burguesa, grosseira, estúpida e cinicamente burguesa.
(Os Condenados da Terra – Frantz Fannon)Sobre Frantz Fannon, aqui, aqui, aqui, aqui
1 comentário:
O diagnóstico de Fanon é preciso e exato quanto ao momentum da descolonização,principalmente porque vê a questão sob a ótica subjetiva dos ex-colonizados. Quanto aos aspectos econômicos, tanto fazia ser industrializado ou não, pois, a matriz essencial era e é capitalista periférica e vinculada aos objetivos do sistema imperialista. Na realidade, como disse Gunder Frank, o subedesenvolvimento é tão capitalista quanto o seu contrário, sendo que em alguns casos, a depender do tipo de relação que mantenha com o imperialismo, poderá até ter um "lumpemdesenvolvimento, para uma lumpemburguesia".
Nào é possível solução alguma dentro do sistema capitalista, pois, todo e qualquer tipo de crescimento econômico terá que ser regido pelas normas da Divisão Internacional do Trabalho que o imperialismo determina.
É chegado o momento de nova Libertação Nacional e Popular.
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