Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A DOSE: EMPOBRECER PARA CRESCER


Uma é a falácia da “austeridade para cumprir as metas do défice”, que cada vez engana menos gente. Do que de facto se trata é de, com esse falso pretexto, roubar salários e direitos aos trabalhadores e ao povo, vender ao desbarato o que resta de património público rentável, encher os bolsos ao grande capital.
Outra falácia é a de que Vítor Gaspar é um “tecnocrata”. É o ministro mais político deste governo de lacaios do grande capital nacional e estrangeiro.

O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, afirmou no Parlamento que a «dose de austeridade» prevista no Orçamento do Estado para 2012 «é aquela que é necessária para cumprir» as metas do défice. «Nem mais nem menos», enfatizou. Uma tal afirmação proferida por um responsável político – por mais tecnocrata que Vítor Gaspar se assuma não pode iludir o facto de se ter disponibilizado para o exercício de um cargo eminentemente político –, uma tal afirmação, dizia, é reveladora dos princípios e/ou interesses que presidem à actuação do Governo. Olhando para o País como se de uma folha de cálculo se tratasse, ao Executivo só interessam duas variáveis, que por estranho que possa parecer são também duas constantes: elencar de um lado todo o tipo de cortes, seja por via dos salários, benefícios sociais ou qualquer outra forma, visando sempre os trabalhadores e o povo, e por outro lado colocar o espólio assim acumulado à disposição do capital nacional e estrangeiro, acrescido da venda ao desbarato de tudo o que é património público rentável.
Dizer que o objectivo de tal «dose de austeridade» selectiva é cumprir as metas do défice não passa, como toda a gente já percebeu, de mera falácia. Porque não há desenvolvimento sustentável sem produção; porque a dívida e os seus juros agiotas são impagáveis; porque um país como Portugal, que tem o salário mínimo mais baixo da zona euro, não precisa de empobrecer para crescer; porque, enfim, a tal «dose de austeridade» significa – como já está a suceder – mais desemprego, mais recessão, mais pobreza, mais dependência e mais défice.
Se o ministro das Finanças, com todos os seus títulos académicos, é incapaz de perceber isto, talvez o cidadão Vítor Gaspar, ao que consta também pai de família, perceba o que significa o facto de crianças da Baixa da Banheira terem eleito, como voto para 2012 a figurar nos postais de Boas Festas da Junta de Freguesia, «Comida para todos».
Que dose de austeridade recomendará neste caso o ministro? A pergunta é de retórica, claro. Porque não é de humanidade que se trata mas do carácter intrínseco do capitalismo, que por mais caridade que pratique será sempre desumano. Por isso há que destruí-lo. (Anabela Fino)

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