Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

sábado, 26 de outubro de 2013

MOÇAMBIQUE UM PAÍS ADIADO?

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A tensão político-militar que se vive em Moçambique é indiciadora duma paz “não conseguida” que se arrasta desde o questionável Acordo geral de Paz e que pode despoletar o regresso às armas.
Moçambique tem de (re) construir-se e reinventar-se a partir de uma determinação inabalável que se exprima pela capacidade não só de pensar o futuro no presente, mas também de organizar o presente de maneira que permita actuar sobre esse futuro, colocando os cidadãos no posto de comando.
Optei por recuperar um texto de Maio de 2009.
As árvores têm de se resignar, precisam das suas raízes; os homens não. Não gosto da palavra “raízes” e da imagem ainda menos. As raízes enfiam-se na terra, contorcem-se na lama, crescem nas trevas; mantêm a árvore cativa desde o seu nascimento e alimentam-na graças a uma chantagem: “Se te libertas, morres!”
(Amin Maalouf)
O corte do cordão umbilical foi, em muitos casos, uma intervenção adiada e/ou assistida. Gerações de urbanizados experimentaram o desconforto da coexistência com a mudança de paradigma! Os mais domesticados, renunciavam às origens e afundavam nos seus delírios, refugiando-se em velhas crenças difundidas pelo engenho triturador de sonhos.
No terreno, esboçava-se o projecto de uma vida nova! Enclausurados em guetos de sociedades divididas, o fogo cruzado de ideologias beligerantes provocava danos e adiava as decisões. Interesses irreconciliáveis disputavam cada palmo de terra.
Esta ideologia libertadora, ameaça a capitalização de privilégios. Em nome da caça às bruxas, forjam-se pretextos para prolongar as hostilidades! O velho inimigo, sorri.
A amnésia histórica instala-se. A diabolização da luta emancipadora dociliza e domestica os mais vulneráveis. Rasgam-se as entranhas do sonho. O pesadelo arrasta-se e secundariza-se a dignidade.
A sobrevivência da utopia está ameaçada, dificilmente resistirá! A morte foi, entretanto, anunciada.
Homens e mulheres, crianças e velhos disputam, no quotidiano, um punhado de alimento. Cobras e humanos, pernoitam em árvores.
Num cenário de destruição, de insegurança, de armadilhas e de indignidades, a degenerescência galopa e os ódios substituem-se à solidariedade e à partilha tão peculiar das gentes da Pérola do Índico.
Nos alicerces dum projecto de contornos bem definidos, ainda que questionado por alguns (muitos?) a nova arquitectura politica terá de dispor de imaginação, capacidade e empenho para conquistar as principais vítimas deste estúpido pesadelo, com rastos de violência aviltantes.
Neste período, muitos moçambicanos, muitos quadros, abandonaram o seu País. Órfãos, coagidos à aventura, engrossaram o caudal dos trabalhadores à mercê da exploração desenfreada dos mesmos, de sempre. Alguns, nem por isso!
Uns e outros ficaram mais pobres: o país e os cidadãos.

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