O SANEAMENTO DO JORNALISTA BAPTISTA BASTOS
A luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o
esquecimento.” Milan Kundera
Considerado um dos
maiores prosadores portugueses contemporâneos, Baptista Bastos foi recentemente
saneado “de um dia para o outro, através de
telemóvel. Foi um saneamento típico", conta.
Tanto no jornalismo como na
literatura situa-se na primeira linha da narrativa portuguesa contemporânea.
Sobre Baptista Bastos escrevia Jorge de Sena: «Um dos grandes narradoresportugueses do nosso tempo, no que a palavra narrador contém de reinvençãoreflexiva e demiúrgica de uma língua (...) Os seus livros distinguem-se, comopoucos, dessa massa parda de pretensiosismo medíocre, e certa economia retóricaé o que mais me interessa neles. Também neles me interessa uma crueldade seca eirónica.»
Estamos assim perante mais uma tentativa de amordaçar e silenciar uma voz
crítica. Um dos maiores grupos de Media em Portugal, Controlinveste Conteúdos S.A., é a
entidade responsável por esta atitude desprezível, autoritária, anticultural e antidemocrática.
A liberdade escreve Baptista Bastos “tem sido espezinhada em
nome de uma paz falaciosa. A nossa comunicação social, neste como em numerosos
e vários casos, emudece, ou faz pender a balança da informação e da análise
para um só lado. Não é só um erro profissional: é uma estrebaria moral, um
ultraje deontológico e uma perfídia abjecta.
O descrédito que tombou sobre a nossa Imprensa, a quebra
avassaladora das tiragens, deve-se, grandemente, à perda dessa unidade
fundamental entre o jornal e o leitor.
Muitos portugueses lêem e falam francês, inglês e alemão.
É absurdo ignorar esta vertente do conhecimento. Encontram na
Imprensa estrangeira o que nem por sombras é publicado na de cá. Haverá
"felicidades diferentes", como reconhecia Camus”.
“O Império Chinês, reconhecia há muitos séculos a necessidade
da crítica autorizada e criou, assim um Conselho de Censores constituído por
homens reputados pela sua erudição e sabedoria, aos quais se concedia o direito
de criticar o Imperador e o seu governo. Infelizmente, como tudo o resto na
Cina tradicional, esta instituição foi submetida a regras convencionais. Havia
algumas coisas que os censores podiam criticar, particularmente o excessivo
poder dos eunucos, mas se enveredavam por terrenos não convencionais da
censura, o Imperador talvez esquecesse as imunidades de que gozavam. O que
acontece entre nós é quase a mesma coisa. De modo amplo, a crítica é permitida,
mas quando se sente que ela é realmente perigosa, o seu autor está sujeito a
ser, de alguma forma punido” (Bertrand Russell)
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