Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

domingo, 26 de agosto de 2007

RECOLONIZAÇÃO DE ÁFRICA


Na agenda da próxima Cimeira UE – África, que será em Lisboa, no final deste ano, há uma questão essencial que fica por mencionar.
Os Acordos de Parceria Económica (APE) consistem no mais recente saque a África que consubstancia a sua recolonização económica.
A negociação dos APE entre a União Europeia e os países do ACP (África, Caraíbas e Pacífico) começou em 2002 e têm que entrar em vigor até ao final deste ano. Estes acordos são parte dos Acordos de Cotonu – acordos mais amplos que cobrem áreas como a ajuda pública, o comércio e a cooperação política entre estes dois grupos de países. Estes acordos expiram em 2008 sendo necessário negociar novos acordos que sejam compatíveis com as regras da OMC, pressionando a abertura dos mercados ACP ao investimento europeu.
Existe, assim, uma pressão por parte da UE para que seja alcançado um acordo antes que termine a cláusula da OMC dentro de cinco meses.
Os APE são alarmantes pois traduzem-se em acordos de comércio livre entre parceiros desiguais. Não podemos comparar o desenvolvimento e a progressão económica africana e a europeia.
Pode parecer justa esta troca: os países ACP podem entrar nos mercados da UE e os países da UE entram em cerca de 90% dos mercados ACP, contudo as empresas e companhias europeias são em maior número e apresentam uma tecnologia e recursos muito mais avançados, em comparação com as empresas ACP.
Estes acordos pressupõem, igualmente, a redução dos direitos pautais, diminuindo a entrada de receitas provenientes da cobrança de direitos aduaneiros o que provocará perda de rendimentos, nos países africanos que têm sectores económicos que não conseguem concorrer com os produtos importados do Norte, muito deles fortemente subsidiados.
A entrada destes acordos aumentarão a concentração e dominação de empresas europeias, debilitando a fraca economia de muitos destes países.
Acresce, ainda, os efeitos negativos destes acordos sobre os agricultores africanos que terão de competir ferozmente com os europeus. A necessidade de se diminuírem os preços dos produtos conduzirá à redução de custos, afectando, naturalmente, os postos de trabalho, tão escassos em África. Isto criará, certamente, um aumento nas já elevadas taxas de desemprego deste continente, desestabilizando ainda mais a região.
Não me parece que os APE sejam instrumentos de desenvolvimento. A actual trajectória das negociações dos APE compromete o desenvolvimento em vez de reforçá-lo, deteriorando, desta forma, as ambições de progresso contidas na estratégia UE-África.
Mónica Frechaut - 30-07-2007 12:57

1 comentário:

AGRY disse...
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