RECORDANDO POETAS DE QUE GOSTO-2
Nascido em Barcelona, a 20 de Março de 1922, Reinaldo Ferreira, de seu nome completo Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira, era filho do jornalista Reinaldo Ferreira, o celebrado Repórter X [vide PUBLICO: Memórias dum repórter].
Tendo vindo para Moçambique (então Lourenço Marques)em fins do ano de 1941 e aqui feito o sétimo ano dos liceus, por cá se conservou, com raras e breves escapadas à "Metrópole", até Junho de 1959, data do seu falecimento.
Em Março do mesmo ano declara-se-lhe um cancro de pulmão que quase fulminantemente o arrebatou.
A pouco mais do que isso se resumirá a biografia de Reinaldo Ferreira, se por biografia entendermos o conjunto de acidentes que mais vulgarmente dão nas vistas. Obra também a não deixou publicada e o melhor que se fez é o que agora aqui se publica. Por ironia do destino o que mais alargou as fronteiras do seu nome foi o que de menos valor ele nos legou: colaboração em algumas revistas musicais, letra de uma ou outra canção de grande êxito, teatro radiofónico, pouco mais. Sabe-se, sabem-no os amigos que com ele mais de perto privaram, que o teatro o seduzia: nele se ensaiara já, sendo certo que exista pelo menos o testemunho de uma (se não mais) sua incursão neste domínio. Muito seria quiçá de esperar neste capítulo, mas para tanto lhe foi pouca a vida.
(In Poemas, Introdução, Imprensa Nacional de Moçambique, Lourenço Marques, 1960)
RECEITA PARA FAZER UM HEROI
Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
Serve-se morto.
Nota: existe uma versão musicada pelos Ira! - grupo rock brasileiro
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O FUTURO
Aos domingos, iremos ao jardim.
Entediados, em grupos familiares,
Aos pares,
Dando-nos ares
De pessoas invulgares,
Aos domingos iremos ao jardim.
Diremos, nos encontros casuais
Com outros clãs iguais,
Banalidades rituais,
Fundamentais.
Autómatos afins,
Misto de serafins
Sociais
E de standardizados mandarins,
Teremos preconceitos e pruridos,
Produtos recebidos
Na herança
De certos caracteres adquiridos.
Falaremos do tempo,
Do que foi, do que já houve...
E sendo já então
Por tradição
E formação
Antiburgueses
- Solidamente antiburgueses -,
Inquietos falaremos
Da tormenta que passa
E seus desvarios.
Seremos aos domingos, no jardim,
Reaccionários.
Serão bem vindas as contribuições destinadas a dar a conhecer melhor Reinaldo Ferreira e a sua poesia.
1997 A.P.Braga (Lisboa) J.João (Braga)
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