Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A GUERRA: RACISMOS BONS,MAUS E ASSIM,ASSIM



A série televisiva A Guerra, de Joaquim Furtado, provocou a concordância de uns e a irritação de outros um pouco por todo o ladoNão concordo, nem de perto nem de longe, com muitas das opiniões. Como primeira reacção, farei um pequeno comentário.

Os discursos sobre a "missão civilizadora" de Portugal em África, ocultavam a verdadeira face da potência colonial
Desnudado o verbalismo farisaico dos seus teóricos em Portugal, logo se constata que o colonialismo é a exploração da terra africana e do trabalho africano, em beneficio dos colonialistas. Ele existe para explorar e reunir as riquezas africanas e transferi-las para a “mãe-pátria” seja ela Portugal ou a Inglaterra ou qualquer outra, porque todos eles foram chocados na mesma chocadeira
Em Portugal, segundo Marcelo Caetano, havia os cidadãos e os indígenas. Estes deviam ser dirigidos e enquadrados numa economia dirigida por brancos.
Campanhas de marketing bem dirigidas, sobre as características únicas dum colonialismo que se pretendia multi-racial, contribuía para o alimentar de ilusões da exploração colonial portuguesa.
E os outros colonialismos?
É inútil procurar classificar os colonialismos, se o racismo inglês foi mais ou menos virulento que o seu congénere português porque: “Uma sociedade é racista ou não é. Enquanto não se tiver apreendido esta evidência deixar-se-à de lado um grande número de problemas” (1)
Na Europa, o Negro, quer concreta quer simbolicamente, representa o lado mau da sociedade.
Colono e colonizado conheceram-se sob o signo da violência. A repressão feroz a que foi submetido o colonizado, determinou a essência do colonialismo.

A invasão e a ocupação de um território por uma potência estrangeira, com todo o seu cortejo de pilhagens, de repressão e destruição, é o traço definidor duma situação colonial.
Os colonizados foram arredados da sua própria história, deixaram de ser senhores dos seus próprios destinos. Colonizados territorial e culturalmente, foi como se tivessem hibernado no tempo da opressão colonial
O chibalo em Moçambique e o contratado em Angola eram duas faces do mesmo espírito colonialista
“Naquela roça grande tem café maduro
E aquele vermelho-cereja
São gotas do meu sangue feitas seiva
O café vai ser torrado
Pisado, torturado
Vai ficar negro, negro da cor do contratado” (4)

“O mundo colonizado é um mundo cortado ao meio. A linha divisória, a sua fronteira é indicada pelos quartéis e pelos postos administrativos e pela policia.
Nas colónias, o interlocutor válido e institucional do colonizado, o porta-voz do colono e do regime de opressão é o administrador e o policia “ (2)
“A cidade do colono é uma cidade sólida, toda ela de pedra e ferro. É uma cidade iluminada, asfaltada onde os caixotes do lixo transbordam sempre de restos desconhecidos, nunca vistos nem sonhados.
A cidade do colonizado é uma cidade agachada, uma cidade de joelhos, uma cidade espojada. É uma cidade de negros, uma cidade de pessoas sem presente “.(3)
Identificado com caderneta de indígena, viajando no banco detrás dos autocarros, sub- alimentado com farinha e peixe podre, interditado de aceder a lugares públicos o colonizado era, sempre foi, o inimigo público a abater.

(1) Frantz Fanon –Peles Negras,Máscaras Brancas
(2) e (3) Do mesmo autor – Os Condenados da Terra
(4) António Jacinto

8 comentários:

Anónimo disse...

Quem fala assim...não é gago!

Parabéns

Conceição Dias

AGRY disse...

Quem lê estes trabalhos e reconhece neles algum mérito estará certamente no mesmo lado da barricada.
Obrigado pelo comentário
Agry

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Belo texto. Abraço anticolonial.

AGRY disse...

Temos o dever de mostrar alguma coerência
Abraço

anA disse...

"Monagamba"
Adorei...mas dói.

AGRY disse...

Sem dúvida anA mas, averdade, é que não devemos enterrar a cabeça na areia. Não consegui ficar indiferente ao branqueamento da presença portuguesa em África.

Anónimo disse...

Gosto do seu blog. Um abraço de Obed L. Khan

AGRY disse...

Obede, um abraço para si
Agry