Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

A AFRICANIZAÇÃO DA POLITICA


O regresso às origens!
Em determinadas latitudes, de quando em vez, surgem vozes que exaltam o regresso ao passado. Sim, ao passado précolonial. São os reconstituidores da história da humanidade e de África em particular.
São os investigadores da última geração, de topo de gama. São os iluminados do século XXI!
Para estes, queria recordar um episódio narrado por Basil Davidson:
“Há cerca de um oito décadas, numa clareira da floresta congolesa, um belga estava sentado no chão a tomar notas. Este belga, cujo nome era Emil Torday, considerando o tempo e o lugar, era um homem de tipo pouco usual, um tipo estranho de europeu, pois o que ele buscava ali não era nem borracha, nem marfim, nem trabalho escravo; o que ele procurava era informações acerca do passado “
B. Davidson é um estudioso de África. Escreveu sobre África e os africanos, ao sul do Sara, incidindo sobre os mil e quinhentos anos anteriores ao inicio da época colonial. Apresentou em esboço o que hoje se conhece, e o que hoje parece razoável acreditar, acerca de certos aspectos da vida e da civilização africana durante esse período, contribuindo assim para uma melhor compreensão das origens e das raízes da África de hoje.
Esta breve introdução, surge a propósito das posições de alguns cidadãos que se refugiam num passado que julgam conhecer,para fundamentar a sua alergia a concepções politicas que lhes provocam um permanente mal-estar.
Compreendo, embora não concorde, o conservandorismo que muitos manifestam desde as independências. Compreendo , mas não concordo, que nunca tenham erguido a voz ante a presença do opressor. Compreendo, mas não concordo, que questionem o talento de intelectuais e revolucionários africanos como Nkrumah, Mandela ou Amilcar Cabral.
Se calhar não compreendo porque nenhum cientista em África, digno desse nome, teve a ousadia de apelar para a rejeição das ciências biomédicas e regressar exclusiva e definitivamente aos velhos métodos da terapia africana. O mesmo se passa noutras ciências e noutras áreas.
Passa pela cabeça de alguém entregar o ensino, a divulgação, a aplicação e a gestão do Direito a chefes tradicionais? Poderia desfilar um infindável cortejo de exemplos.
Porquê, então acossar a politica? Porque fazer dela uma excepção e um convite permanente para a sua reinvenção em termos africanos?
Os maus politicos, os déspotas e os corruptos, são a armadilha, o pretexto, para justificar um apelo a um nacionalismo exacerbado?
Não resisto a citar Clemente Zamora:
“Enquanto Roma e os povos latinos exerciam a hegemonia no mundo, os anglos e os saxões eram povos primitivos e bárbaros. Uns séculos mais tarde, Roma desaba, e os povos germânicos assumem a direcção mundial. Os povos, contudo, não tinham mudado: os romanos continuavam sendo latinos e os bárbaros continuavam sendo germanos”
A reinvenção da linguagem – democracia africana, democracia árabe – é uma derradeira tentativa de enganar os menos informados e protelar, ainda mais, o despertar de uma verdadeira consciência que reclame que não há verdadeira democracia sem progresso social.
Talvez fosse preferível esquecer o termo "democracia" e falar bastante mais de "democratização", entendida como um processo sem fim” diz-nos Samir Amin
Por seu turno, os contorcionismos da burguesia, de todos os continentes, têm como suporte o carácter desinformativo e anestesiante da propaganda ao seu serviço.
Termino com Marta Harnecker, “devemos procurar mostrar que a politica não é arte do possível, mas a arte de construir a força social e politica capaz de mudar a realidade, tornando possível, no futuro, o que hoje nos parece impossível”

Sem comentários: