A AFRICANIZAÇÃO DA POLITICA
O regresso às origens!
Em determinadas latitudes, de quando em vez, surgem vozes que exaltam o regresso ao passado. Sim, ao passado précolonial. São os reconstituidores da história da humanidade e de África em particular.
São os investigadores da última geração, de topo de gama. São os iluminados do século XXI!
Para estes, queria recordar um episódio narrado por Basil Davidson:
“Há cerca de um oito décadas, numa clareira da floresta congolesa, um belga estava sentado no chão a tomar notas. Este belga, cujo nome era Emil Torday, considerando o tempo e o lugar, era um homem de tipo pouco usual, um tipo estranho de europeu, pois o que ele buscava ali não era nem borracha, nem marfim, nem trabalho escravo; o que ele procurava era informações acerca do passado “
B. Davidson é um estudioso de África. Escreveu sobre África e os africanos, ao sul do Sara, incidindo sobre os mil e quinhentos anos anteriores ao inicio da época colonial. Apresentou em esboço o que hoje se conhece, e o que hoje parece razoável acreditar, acerca de certos aspectos da vida e da civilização africana durante esse período, contribuindo assim para uma melhor compreensão das origens e das raízes da África de hoje.
Esta breve introdução, surge a propósito das posições de alguns cidadãos que se refugiam num passado que julgam conhecer,para fundamentar a sua alergia a concepções politicas que lhes provocam um permanente mal-estar.
Compreendo, embora não concorde, o conservandorismo que muitos manifestam desde as independências. Compreendo , mas não concordo, que nunca tenham erguido a voz ante a presença do opressor. Compreendo, mas não concordo, que questionem o talento de intelectuais e revolucionários africanos como Nkrumah, Mandela ou Amilcar Cabral.
Se calhar não compreendo porque nenhum cientista em África, digno desse nome, teve a ousadia de apelar para a rejeição das ciências biomédicas e regressar exclusiva e definitivamente aos velhos métodos da terapia africana. O mesmo se passa noutras ciências e noutras áreas.
Passa pela cabeça de alguém entregar o ensino, a divulgação, a aplicação e a gestão do Direito a chefes tradicionais? Poderia desfilar um infindável cortejo de exemplos.
Porquê, então acossar a politica? Porque fazer dela uma excepção e um convite permanente para a sua reinvenção em termos africanos?
Os maus politicos, os déspotas e os corruptos, são a armadilha, o pretexto, para justificar um apelo a um nacionalismo exacerbado?
Não resisto a citar Clemente Zamora:
“Enquanto Roma e os povos latinos exerciam a hegemonia no mundo, os anglos e os saxões eram povos primitivos e bárbaros. Uns séculos mais tarde, Roma desaba, e os povos germânicos assumem a direcção mundial. Os povos, contudo, não tinham mudado: os romanos continuavam sendo latinos e os bárbaros continuavam sendo germanos”
A reinvenção da linguagem – democracia africana, democracia árabe – é uma derradeira tentativa de enganar os menos informados e protelar, ainda mais, o despertar de uma verdadeira consciência que reclame que não há verdadeira democracia sem progresso social.
Talvez fosse preferível esquecer o termo "democracia" e falar bastante mais de "democratização", entendida como um processo sem fim” diz-nos Samir Amin
Por seu turno, os contorcionismos da burguesia, de todos os continentes, têm como suporte o carácter desinformativo e anestesiante da propaganda ao seu serviço.
Termino com Marta Harnecker, “devemos procurar mostrar que a politica não é arte do possível, mas a arte de construir a força social e politica capaz de mudar a realidade, tornando possível, no futuro, o que hoje nos parece impossível”
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