Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

SOBRE A DEMOCRACIA


Os que esquecem o passado, estão condenados a repeti-lo –George Santayana
O mesmo regime politico e económico que se implantou nas colónias é o mesmo que, hoje, pretende exportar e africanizar o “capitalismo democrático”.
“Na Índia pré-colonialista, as terras eram repartidas pelas comunidades das aldeias, de forma proporcional.
Os ingleses promoveram à categoria de proprietários privados, com diversos graus de autoridade, os responsáveis por esta gestão política, impondo assim o seu próprio modelo do capitalismo ocidental “(Samir Amin)
No mundo das mil e uma maravilhas, democracia é um exercício de hipocrisia e de provocação. Evocam-se os famintos e exalta-se a liberdade de que dispõem para denunciarem a sua situação miserável! Nada mais cínico, mais abjecto.
Como escrevi já, gostaria, que não se mutilasse o conceito de democracia das suas componentes sociais, económicas e culturais, em oposição à cómoda e redutora interpretação que a circunscreve às liberdades politicas. Não pode haver democracia autêntica sem progresso social.
“Lutamos para construir, nos nossos países, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”, escreveu Amilcar Cabral
Que dizer dos “defensores” dos ideais da democracia e da liberdade?
A reinvenção da linguagem – democracia moderna, democracia avançada – é um último e desesperado golpe de rins na busca de protagonismo e de visibilidade. É o traiçoeiro complexo do conquistador. É o regresso ao passado e insistir na ideia de que ele ainda é o presente. É o embuste. É um neocolonialismo suave, adocicado
John Locke, o filósofo da liberdade, era accionista da Royal Africa Company , que comprava e vendia escravos!
O neoliberalismo fracassou há muito no plano ideológico. A prova disso é que as políticas económicas neoliberais têm de ser impostas aos povos através das artes do engano e da mentira.
Propagandeia-se a flexisegurança, isto é, a precaridade do trabalho, em nome da sacrilização do mercado e do enriquecimento desenfreado das oligarquias financeiras e politicas.
O mundo é dirigido por organismos que não são democráticos, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio.Estes organismos praticam o apartheid à escala mundial.
“O discurso da ideologia dominante, que estabelece uma absoluta igualdade entre democracia e mercado, e baseando-se nesta premissa, sustenta que não há democracia sem mercado – e que o próprio mercado cria as condições para o aprofundamento da democracia –, é um discurso vulgar, puramente propagandístico, que não tem nada a ver com a realidade histórica nem com a sua análise científica.
Talvez fosse preferível esquecer o termo "democracia" e falar bastante mais de "democratização", entendida como um processo sem fim” diz-nos Samir Amin
Por seu turno, os contorcionismos da grande burguesia, têm como suporte o carácter desinformativo e anestesiante dos media ao seu serviço.
No quadro das chamadas democracias modernas e ocidentais, há quem não resista ao charme e às mega-operações de marketing promovidas pelas oligarquias financeiras e por uma classe politicamente inculta e conservadora.
Como diz Marta Harnecker, “devemos procurar mostrar que a politica não é arte do possível, mas a arte de construir a força social e politica capaz de mudar a realidade, tornando possível, no futuro, o que hoje nos parece impossível”


3 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ui, Locke era um esclarecido e Marx soube dar-lhe o devido valor.
Estou a reler Marx em chave liberal de Esquerda. aguardo a sua crítica.
Estou a gostar de falar com Patricio Langa.
Abraço

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Adicionei o seu texto ao meu sobre "Marxismo e Democracia".
:)))

AGRY disse...

Sobre o Locke não é isso que está em questão
Abraço