Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

domingo, 13 de julho de 2008

A PROPÓSITO DE DANIEL FILIPE


A propósito de Daniel Filipe, um dos meus poetas preferidos, Baptista Bastos, escreveu, há dias:
"No pequeno café onde vou todas as manhãs, ouvi, ontem, esta frase: "Portugal é o nosso exílio." Retive a frase, que me devolveu a memória de um amigo caloroso: Daniel Filipe. A associação de ideias ancorava num dos mais belos e melancólicos livros de poesia: Pátria, Lugar de Exílio, no qual Daniel Filipe dizia: "Pressinto que outra hora insepulta marca o tempo de espera."
Há uma certa similitude entre a dor de aqui existir, entoada pelo grande poeta esquecido, e a angústia de agora estar, não-estando. Pior do que o cerco e o esmagamento é a decapitação da esperança. O exílio interior é o refúgio procurado como defesa da integridade. Como naquela sombria época, vivemos, de novo, no grande cansaço do céu".


Retirei de Pátria, Lugar de Exílio, este fragmento

Aqui mesmo envolto na placidez burguesa
higienicamente limpo e com os papéis em ordem
vestido de nylon dralon leacril
com acabamentos sanitized
e lugar marcado junto ao aparelho de TV
eu
enjoado de tudo e contemporizando com tudo
eu
peça oleada do mecanismo de trituração
eu
incapaz de suicídio descerrando um sorriso-gelosia
eu
apesar de tudo vivo apesar de tudo inquieto
eu
neste ano de 1962
exatamente
não ontem mas precisamente às três horas da tarde
pela hora oficial
exilado na pátria

2 comentários:

Paula Crespo disse...

Não conheço nada de Daniel Filipe, mas a sua escrita, pelo que aqui nos deixa, é o testemunho do marasmo em que Portugal vivia nessa época. E foi uma época demasiado prolongada. Apesar das mudanças, que foram muitas, ainda se vive uma certa herança desse nosso passado - um passado que não nasceu no Estado Novo, mas que tem raízes bem mais profundas. Libertarmo-nos dele é tarefa para uma digestão difícil e lenta, mas há-de ir acontecendo, aos poucos...
Bjs

AGRY disse...

Veio para Portugal, ainda criança. Aqui estudou, aqui se fez poeta e também aqui combateu a ditadura .Foi preso, torturado e regressou a Cabo Verde para morrer precocemente. Foi também jornalista e colaborador, entre outras, da revista Seara Nova. Foi um poeta combatente, um poeta de intervenção, de grande talento.
Permito-me sugerir-lhe este link para ler, dele, alguns poemas
http://www.astormentas.com/din/poemas.asp?autor=Daniel+Filipe
Bjs