Nós, da CONCP, queremos que nos nossos países martirizados durante séculos, humilhados, insultados, nunca possa reinar o insulto, e que nunca mais os nossos povos sejam explorados, não só pelos imperialistas, não só pelos europeus, não só pelas pessoas de pele branca, porque não confundimos a exploração ou os factores de exploração com a cor da pele dos homens; não queremos mais a exploração no nosso país, mesmo feita por negros. Lutamos para construir, nos nossos países, em Angola, em Moçambique, na Guiné, nas Ilhas de Cabo Verde, em S. Tomé, uma vida de felicidade, uma vida onde cada homem respeitará todos os homens, onde a disciplina não será imposta, onde não faltará o trabalho a ninguém, onde os salários serão justos, onde cada um terá o direito a tudo o que o homem construiu, criou para a felicidade dos homens. É para isso que lutamos. Se não o conseguirmos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”. AMILCAR CABRAL

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

DESVENTURAS DA CONSCIÊNCIA NACIONAL (I)

fanon
“O povo estagna lamentavelmente numa miséria insuportável e toma lentamente consciência da inqualificável traição dos seus dirigentes” Fanon
A burguesia colonial que toma o poder no fim do regime colonial, é uma burguesia subdesenvolvida. O seu poder económico é quase nulo e, seja como for, sem comparação com o da burguesia metropolitana que ela pretende substituir. No seu narcisismo voluntarista, a burguesia nacional convenceu-se facilmente de que poderia substituir e com vantagem a burguesia metropolitana.
Os quadros universitários e comerciantes que constituem a fracção mais esclarecida do novo estado caracterizam-se, com efeito, pelo seu pequeno número, pela sua concentração na capital e pelo tipo das suas actividades: negócio, explorações agrícolas, profissões liberais. No seio dessa burguesia nacional, não há industriais nem financeiros. A burguesia nacional dos países subdesenvolvidos não está orientada, para a produção, para a invenção, para a construção e para o trabalho. E está inteiramente canalizada para actividades de tipo intermédio. Entrar no circuito, conhecer os truques, parece ser essa a sua vocação profunda. A burguesia nacional tem uma psicologia de homens de negócios e não de capitães de indústria.
No sistema colonial, é impossível uma burguesia que acumule capital. Ora, precisamente, parece que a vocação histórica de uma burguesia nacional autêntica, num país subdesenvolvido, consiste em negar-se como burguesia, em negar-se como instrumento do capital e em tornar-se totalmente escrava do capital revolucionário constituído pelo povo.
Num país subdesenvolvido, uma burguesia nacional autêntica deve ter como dever imperioso trair a vocação a que estava destinada, ir à escola do povo, isto é, pôr à disposição do povo o capital intelectual e técnico que extorquiu por ocasião da sua passagem pelas universidades coloniais. Veremos, infelizmente, que muitas vezes, a burguesia nacional se desvia dessa via heróica e positiva, fecunda e justa, para se introduzir tranquila, na via horrível, porque antinacional, de uma burguesia clássica, de uma burguesia burguesa, grosseira, estúpida e cinicamente burguesa.
(Os Condenados da Terra – Frantz Fannon)
Sobre Frantz Fannon, aqui, aqui, aqui, aqui

1 comentário:

Unknown disse...

O diagnóstico de Fanon é preciso e exato quanto ao momentum da descolonização,principalmente porque vê a questão sob a ótica subjetiva dos ex-colonizados. Quanto aos aspectos econômicos, tanto fazia ser industrializado ou não, pois, a matriz essencial era e é capitalista periférica e vinculada aos objetivos do sistema imperialista. Na realidade, como disse Gunder Frank, o subedesenvolvimento é tão capitalista quanto o seu contrário, sendo que em alguns casos, a depender do tipo de relação que mantenha com o imperialismo, poderá até ter um "lumpemdesenvolvimento, para uma lumpemburguesia".
Nào é possível solução alguma dentro do sistema capitalista, pois, todo e qualquer tipo de crescimento econômico terá que ser regido pelas normas da Divisão Internacional do Trabalho que o imperialismo determina.
É chegado o momento de nova Libertação Nacional e Popular.