LÍBIA: O DITADOR DESMASCARADO
Vendaval árabe abala Muamar Gaddafi, o coronel que foi aliado do “socialismo real”, estimulou atentados e terminou nos braços de Bush, Blair e Silvio Berlusconi
O país está quase isolado do mundo: a ditadura controla rádio, TV e jornais; cortou internet, celulares e telefones fixos. Raras notícias e imagens furam o muro de silêncio. São dramáticas. A aviação disparou contra a população rebelde. Há pelo menos 300 mortos, num país cuja população equivale à da cidade do Rio de Janeiro. Mercenários substituem os soldados que desertam. Percorrem as ruas da capital (Tripoli) armados, para reprimir manifestações. O aeroporto de Benghazi, onde começaram os protestos, foi bombardeado. O filho do ditador anunciou domingo que o regime resistirá “até o último homem” e ameaçou iniciar uma guerra civil.
O regime agora pendurado por um fio flertou, ao longo de seus 41 anos, com os dois grandes projetos políticos que marcaram o século 20: “socialismo real” e sociedades de mercado. Em ambos os casos, as multidões foram mantidas à margem, reprimidas, privadas de direitos políticos e de qualquer participação importante sobre seu futuro coletivo. Agora, tateiam em busca de uma alternativa.
Mas, seja qual for seu desfecho, a revolução líbia convida a própria esquerda a uma reflexão autocrítica. O caráter de um governo não está no que ele diz de si próprio, nem apenas nas políticas que conduz, mas também — e cada vez mais — no grau de participação e horizontalidade que é capaz de manter com as multidões. Ao escancarar este fato, o vendaval árabe oferece mais um presente inestimável à nova cultura política que está em construção (excertos duma análise de António Martins)
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