A PROPÓSITO DO BLOCO DE ESQUERDA
“A ofensiva contra a barbárie continua na ordem do dia, pois a superação política resultará de um componente social de mudança, e não de uma vitória eleitoral, mesmo que ela possa parecer espectacular à primeira vista. (István Mészáros)
O resultado eleitoral do BE provocou o delírio dos média e da direita em geral e foi o pretexto para que um pequeno grupo se pusesse em bicos dos pés e pedisse a cabeça da direcção do Bloco e, muito em particular, de Francisco Louçã como a confirmar que ninguém dá pontapés num cão morto!
Recordo o que escrevi na altura: Os média, particularmente os audiovisuais, fortemente empenhados em impedir o avanço de forças antisistémicas, assumiram zelosamente o papel de vanguarda dos grandes grupos económicos, verdadeiras colónias culturais, e desenvolveram a cruzada a favor das troicas, braço politico da ideologia do capitalismo financeiro e económico.
Era de todo impensável que a resposta eleitoral à contestação criada pela crise penalizasse forças progressistas não obstante o palavrão esquerda ainda provocar gastrites e outras mazelas a muitas centenas de milhares de portugueses.
Libertar do marasmo e dos medos um eleitorado colonizado por uns média ao serviço de grandes grupos económicos e blindado por preconceitos adquiridos desde o berço, é uma tarefa hercúlea que exige uma mobilização geral de toda a esquerda.
É imperioso clarificar conceitos de tal forma que não se confunda socialismo com o PS e social-democracia com PSD ou, por outras palavras, chamar os bois pelos nomes. E é também a este nível que o BE, e a esquerda em geral, tem de se demarcar inequivocamente do PS. Ao reclamar-se do socialismo, o Bloco deverá enfatizar as diferenças, quer ao nível ideológico quer na prática politica, que o separam dum partido que, instalado no Poder, se deslumbrou e se rendeu ao neoliberalismo.
O que devemos fazer? Intensificar o combate ideológico nomeadamente através do recurso aos media alternativos articulados, ou não, em frentes comuns; fomentar o envolvimento crescente dos trabalhadores na tomada de decisões; fortalecer as intervenções extraparlamentares de combate; rejeitar a prática politica de partidos vocacionados em administrar as crises do capital e distribuir os paliativos do costume, para disfarçar politicas fortemente lesivas dos interesses e dos direitos da classe trabalhadora.
Aos cidadãos de esquerda, ditos independentes, deve recordar-se que não é a autoproclamação que lhes confere essa qualidade. São os princípios e os valores aliados a uma prática consequente que espelham a margem ideológica em que nos situamos.
A crítica e o activismo no conforto do sofá reforçado por uma abstenção galopante, qual mimetismo politico, também ajudam a compreender o fenómeno consubstanciado nos resultados eleitorais de 5 de Junho.
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