TERROR INVISÍVEL: o passado ainda é presente
Gostaria de iniciar esta mensagem recordando Amilcar Cabral: “Não lutamos simplesmente para pôr uma bandeira no nosso país e para ter um hino.Não queremos mais a exploração do nosso país mesmo feita por negros. É para isso que lutamos. Se não o conseguimos, teremos faltado aos nossos deveres, não atingiremos o objectivo da nossa luta”.
Transposto para a realidade portuguesa, poder-se-à afirmar que os objectivos últimos do 25 de Abril não eram a exploração do nosso país, mesmo feito por anti-fascistas.
Defraudar as expectativas dos trabalhadores, defender a destruição de todos os regimes de Segurança Social em proveito de Fundos de Pensões, dos Bancos e de Companhia de Seguros tem pouco a ver com democracia
Cria-se o desemprego, assumindo uma politica contra os salários e pensões em nome do combate ao défice, demitindo-se da intervenção que ajude este ou aquele sector da economia em obediência cega a politicas neo-liberais. É uma politica avulsa, cega e contrária aos interesses do país e dos trabalhadores.
É preciso reencontrar o verdadeiro sentido da politica social colocando-a no caminho da solidariedade.
Um homem desempregado não é um homem livre. A liberdade pressupõe a oportunidade de conquistar uma vida com o mínimo de dignidade.
Muitos dos procedimentos adoptados por algumas instituições neste país, refém dum passado politicamente tenebroso, é algo preocupante e que nos reporta para períodos históricos mais ou menos longínquos.
A institucionalização da repressão ao nível da linguagem e das próprias relações com o cidadão e com o trabalhador, em particular, é algo que urge combater e desmistificar com coragem.
Qualquer funcionariozeco, qualquer chefezinho duma qualquer instituição assume-se como o Poder.( A arrogância já não é exclusivo de ministro!). É a mediocridade convertida em Poder, é a prepotência e a arrogância a recordar-nos que o passado ainda é presente
Por razões meramente estatísticas, forjam-se razões para se retirar o subsidio de desemprego. Na mente doentia de alguns cidadãos efemeramente instalados no Poder, os trabalhadores são uns malandros e devem ser vigiados permanentemente.
A arbitrariedade é a palavra de ordem. Sobre esta matéria, o signatário está em condições de apresentar exemplos concretos de arrogância e de autoritarismo convertidos numa prática corrente.
No passado, em circunstâncias bem difíceis, muitos de nós não vergaram a espinha ante o Poder autoritário e antidemocrático. Hoje, obviamente que não estamos disponíveis para nos submetermos a decisões arbitrárias, o que equivale a dizer que não nos subordinaremos à Lei da Selva.
A liberdade não é algo fragmentado e fragmentável.Se há igualdade de oportunidades perante as urnas, é legitimo esperar que as mesmas oportunidades sejam concedidas em todos os dominios, nomeadamente no mercado de trabalho.
O circulo vicioso da credibilidade que aprisiona a politica , os politicos (leia-se de Direita, nela incluindo o PS) e certas camadas sociais, mergulha as suas raizes no arrivismo, na impreparação e na ausência de valores éticos e de solidariedade para com os outros cidadãos.
É vulgar dizer-se que Portugal é um país de poetas! Penso que será mais um país onde a arrogância, a mesquinhez, o egoismo e a ausência de valores éticos e de solidariedade social está pegando moda e hoje, infelizmente, não são apenas os politicos de direita os seus agentes e difusores
Muitos deles receberam de bandeja as liberdades democráticas que pretendem hoje recusar aos seus pais e tios.
Vivemos num país mergulhado na mediocridade e na pequenez, num país adiado e mergulhado até às virilhas na corrupção "institucionalizada".
Termino com Mia Couto: " Há um terror invisivel que pode estar alimentando o terrorismo internacional. Esse é o terror da fome, da pobreza, da ignorância, o terrorismo do desespero perante a impossibilidade de mudar a vida"
ZECA AFONSO 20 anos depois
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